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27/04/2016

A diferença entre Nacionalismo e Patriotismo pela ótica do esporte

É inegável que os esportes carregam consigo aspectos e características das sociedades nacionais em que os mesmos se inserem, ainda que vivemos em tempos de globalização. E ao se tratar de competições esportivas internacionais, como os Jogos Olímpicos, eles evidenciam sentimentos nacionais e exaltam símbolos nacionais (bandeira e hino) durante os embates entre dois ou mais países.

Porém, como esses sentimentos podem ser caracterizados ou definidos de acordo com a literatura científica? É comum vermos em meios de comunicação esportivos e até nas expressões faladas em ambientes públicos e particulares que tais sentimentos e comportamentos se tratam de nacionalismo ou patriotismo. E há uma diferença relevante entre os dois termos para designar esse comportamento nacional dentro das arenas, estádios, ginásios e ruas.

Me pautando de uma relação causa e consequência, é preciso dizer que não haveria patriotismo sem nacionalismo, assim como não haveria nação e identidade nacional sem o mesmo. Isso se deve porque o nacionalismo é a causa dessa relação por ter surgido por meio de emancipações territoriais e ideológicas e pelo acontecimento de grandes revoluções como a Revolução Francesa (1785), as Revoluções Democráticas de 1848 e a Revolução Industrial no século XIX. Esse é um dos motivos do nacionalismo ser considerado, por grandes autores, como uma ideologia política moderna, legitimadora de políticas públicas de Estados nacionais e criadoras de sentimentos e representações nacionais. Além do mais, por ser uma ideologia política, o nacionalismo é responsável pelos aspectos mais negativos que uma nacionalidade pode possuir, como a xenofobia, o fascismo, o nazismo e o absurdo do genocídio.

A consequência dessa relação ou o produto do nacionalismo é o patriotismo. E com esse termo há uma união de todos os aspectos positivos de uma nacionalidade que fora deixado pelo nacionalismo, como a tolerância, a hospitalidade e a benevolência. Tudo isso porque patriotismo significa amor à pátria, significa familiaridade com o lugar e as pessoas as quais vivemos. É por essa razão que patriotismo se revela como um sentimento e não como uma ideologia.

Portanto, ao ver, num ambiente esportivo, bandeiras nacionais tremulando, hinos sendo cantados, outros cânticos sendo entoados, camisetas/uniformes vestidos, rostos e cabelos pintados com as cores nacionais e certos comportamentos que levam a crer ser característico de uma sociedade nacional moderna, isso significa ser patriotismo sem deixar de considerar a importância do nacionalismo nessa construção, já que se trata de uma relação de causa e consequência.

Ou seja, ao se deparar com frases como essas: “Há a demonstração de nacionalismo pela torcida brasileira” ou “Ele (a) é um (a) nacionalista”, na verdade deveriam ser “Há a demonstração de patriotismo pela torcida brasileira” e “Ele(a) é um(a) patriota”.

20/04/2016

Jogos Olímpicos ou Olimpíadas: o termo mais adequado é?

Em tempos de ano olímpico, é notória a quantidade de informações, veiculadas pelos meios de comunicação, sobre os aspectos históricos, preparatórios, estruturais, técnicos e políticos desse evento de proporções globais. Contudo, é importante se ater em relação a algumas nomenclaturas utilizadas para denominar o evento. E uma dessas dicotomias refere-se aos termos Jogos Olímpicos e Olimpíadas.

Vale ressaltar que essa informação do termo mais correto é muito mais pertinente para o campo da curiosidade do que, de certa forma, para o campo da etimologia dos termos, exceto para o ambiente acadêmico-científico.

Desta forma, qual o melhor termo a ser utilizado para designar a edição olímpica? Para responder essa questão, me pauto no Boletim oficial do Comitê Olímpico Internacional do ano de 1972 (http://library.la84.org/OlympicInformationCenter/OlympicReview/1972/ore58/ore58j.pdf). Segundo o mesmo boletim, o termo mais correto é Jogos Olímpicos em detrimento de Olimpíadas.


Isso porque Olimpíadas refere-se ao ciclo olímpico, ou seja, ao período de quatro anos que compreende do encerramento da última edição olímpica a abertura da edição olímpica seguinte. Por exemplo, do arreamento da bandeira olímpica na cerimônia de encerramento em Londres, 2012 ao hasteamento da mesma na cerimônia de abertura esse ano, no Rio de Janeiro, é caracterizado como Olimpíadas.

Agora, do dia 5 de agosto a 21 de agosto e por assim dizer, o evento propriamente dito, é caracterizado e denominado como Jogos Olímpicos.

Portanto, mesmo sem qualquer juízo de valores ou condenação para quem confunde os termos, é necessário ponderar que o termo mais correto para designar o que acontecerá na cidade do Rio, a partir de agosto, é Jogos Olímpicos e não Olimpíadas. 

01/04/2016

Os protestos pró impeachment e seu uniforme: a camisa da seleção brasileira

Talvez minha geração (quem nasceu na década de 90) nunca viu um rebosteio político tão grande quanto nos dias atuais e que se perdura desde outubro de 2014. Opiniões a parte, a intolerância e a violência verbal se refere muito mais a busca pelo poder por aqueles que o sempre tiveram na mão contra a manutenção do poder por aqueles que há pouco estão no comando e já mudaram para melhor tantos aspectos que os outros demoraram décadas ou não se importaram em mudar. Ou seja, o conflito político atual se trata de uma velha briga desleal: a Casa Grande x Senzala.

E há vários domingos, nos deparamos com protestos daqueles pertencentes a Casa Grande que querem, por meio de um golpe midiático e do judiciário, extirpar do governos federal os atuais gestores. E por mais que se trate de pessoas que representam grupos sociais de médio e grande aporte financeiro, um fato chama a atenção: o vestuário que é utilizado nestes protestos que são os uniformes da seleção brasileira de futebol.

E a utilização do uniforme da seleção brasileira se deve à dois fatores. Um momentâneo e outro histórico. O momentâneo por causa do propósito destes protestos: a “melhoria do país”. E como se refere ao “âmbito nacional”, que na realidade se alude para a melhoria de uma parcela mínima da sociedade brasileira, eles então se pautam dos símbolos nacionais, a bandeira, o hino e a camisa da seleção. Já o fato histórico revela-se na importância que o futebol, muito por conta dos resultados obtidos pela seleção brasileira, teve na construção da identidade nacional brasileira.

E é na inclusão do futebol na construção da nossa identidade que a fez possuir de um processo de criação diferenciado dos países europeus, de modo que as sociedades modernas europeias tiveram suas identidades pautadas por uma origem étnica comum, homogeneização de sua população e por meio de guerras, revoluções e processos políticos. Em consequência disso, os esportes eram tidos na Europa muito mais para a propagação, fortificação e representação das nacionalidades do que propriamente para a construção das mesmas. Até porque, a institucionalização dos esportes (século XIX) adveio posteriormente à construção dessas identidades.

Já no Brasil, a necessidade de encontrar uma identidade que representasse tantos povos heterogêneos dentro do mesmo território, fez crescer os olhos dos intelectuais e governantes da época (década de 30, 40 e 50), responsáveis pela criação da identidade nacional brasileira, para com o futebol, pois nele reunia-se e reúne as melhores características da sociedade brasileira, bem como, tenha sido essencial para sua prática a miscigenação dos povos brasileiros. Ou seja, aliado as políticas nacionalistas do Estado Novo de Getúlio Vargas, a criação da Petrobras e o lema “O petróleo é nosso” e a industrialização tardia dos modos de produção, o futebol foi e é um pilar imprescindível para dizer quem é a sociedade brasileira.


Por fim, deixando de lado toda a hipocrisia e mediocridade de quem protesta a favor do impeachment, é notório que o futebol se fez e faz presente na vida da sociedade brasileira ao utilizar a camisa da seleção como uniforme nessas reivindicações.