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05/07/2016

As formas de cantar os hinos nacionais no âmbito esportivo

Possuo uma monografia e uma dissertação de mestrado que dentre outros temas, abordam a construção e o estabelecimento das ideologias e sentimentos nacionais, assim como, o abalo nas estruturas de sentir e viver essas nacionalidades em tempos globais. Venho repetindo costumeiramente essas afirmações/teses aqui no blog pois há inúmeros acontecimentos atuais que evidenciam isso ou necessitam de melhor debruçamento histórico e teórico.

Da mesma forma que alavanco a decadência dos valores e sentimentos nacionais em detrimento das novas formas de comportamentos globais, é notório que no ambiente esportivo e tão somente nele, por meio das competições internacionais, se revela como um campo de refúgio para que os sentimentos nacionais possam ser exaltados. Muito porque ainda se tratam de embates esportivos entre nações, bem como, há a exaltação de seus símbolos.

E uma das exaltações tão vivas, presentes e institucionalizadas nas competições esportivas é a execução de hinos nacionais. E quero discorrer hoje sobre como as formas de cantar os hinos nacionais nos esportes, nos mostram como foram construídos os respectivos Estados nacionais (por mais que isso possa ser redundante).



A construção dos Estados nacionais na Europa foram, acima de tudo, consequências de algumas revoluções, conflitos e principalmente guerras. Alguns acontecimentos podem ser citados, como a Revolução Francesa, as Revoluções Democráticas de 1848, as duas Grandes Guerras Mundiais, a eclosão da Iugoslávia e da União Soviética e por final e talvez a mais preponderante no que se trata de sistema político e econômico e a legitimação do poder nacional, a Revolução Industrial. E é claro que por intermédio de tudo isso, os sentimentos nacionais europeus são mais acalorados, fortes e temerários do que outros continentes por envolver mortes, ódio ao que é estrangeiro, ideologias de superioridades raciais e etc.

É por isso que em competições europeias, na execução dos hinos nacionais, a cantoria da torcida, dos atletas, das comissões e dos chefes de Estados, é feita a plenos pulmões. Não só para demonstrar a força de sua nacionalidade ou empurrar a seleção para uma possível vitória, mas sim, o ódio histórico que envolve o continente assolado por guerras e conflitos de ordem nacional e racial. É bonito de ser ver sim, concordo. Mas repito e com a colaboração de Hannah Arendt, nem só de Nacionalismo cívico (aquele nacionalismo criador de costumes, tradições e cidadania) vive o mundo. Há entretanto, o Nacionalismo tribal ou chauvinista (aquele que ocasiona conflitos e xenofobismo).    

Em contrapartida, não é surpresa para ninguém que os Estados nacionais, no continente americano, tenham obtido sua soberania e autonomia nacional por meio de processos de independências dos próprios Estados europeus. É evidente que algumas dessas independências foram por meio de conflitos armados e outras por acordos entre colonizadores e colonizados, mas o fato é que não houve tanto ódio ao que é estrangeiro como na Europa. E a soberania conseguida é totalmente contextualizada nos hinos nacionais, predominantemente na América do Sul, onde todos os hinos contém a palavra “liberdade”. É com essa finalidade que são cantados os hinos nacionais em competições no continente, um grito de liberdade, um grito de soberania, diferentemente da tentativa de intimidação e supremacia da Europa.


Portanto, o ato de cantar o hino nacional é um ato de cidadania mesmo que pareça o mínimo de civismo praticado por nós. Entretanto, como uma tradição inventada e construída historicamente, é impossível não lembrar e sentir a forma como nosso respectivo Estado nacional foi construído, trazendo à tona os feitos, as bondades e até mesmo os mais capciosos sentimentos no momento da cantoria.  

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