Possuo uma monografia e uma
dissertação de mestrado que dentre outros temas, abordam a construção e o
estabelecimento das ideologias e sentimentos nacionais, assim como, o abalo nas
estruturas de sentir e viver essas nacionalidades em tempos globais. Venho
repetindo costumeiramente essas afirmações/teses aqui no blog pois há inúmeros
acontecimentos atuais que evidenciam isso ou necessitam de melhor debruçamento
histórico e teórico.
Da mesma forma que alavanco a
decadência dos valores e sentimentos nacionais em detrimento das novas formas
de comportamentos globais, é notório que no ambiente esportivo e tão somente
nele, por meio das competições internacionais, se revela como um campo de
refúgio para que os sentimentos nacionais possam ser exaltados. Muito porque
ainda se tratam de embates esportivos entre nações, bem como, há a exaltação de
seus símbolos.
E uma das exaltações tão vivas, presentes
e institucionalizadas nas competições esportivas é a execução de hinos
nacionais. E quero discorrer hoje sobre como as formas de cantar os hinos
nacionais nos esportes, nos mostram como foram construídos os respectivos
Estados nacionais (por mais que isso possa ser redundante).
A construção dos Estados
nacionais na Europa foram, acima de tudo, consequências de algumas revoluções,
conflitos e principalmente guerras. Alguns acontecimentos podem ser citados,
como a Revolução Francesa, as Revoluções Democráticas de 1848, as duas Grandes
Guerras Mundiais, a eclosão da Iugoslávia e da União Soviética e por final e
talvez a mais preponderante no que se trata de sistema político e econômico e a
legitimação do poder nacional, a Revolução Industrial. E é claro que por
intermédio de tudo isso, os sentimentos nacionais europeus são mais acalorados,
fortes e temerários do que outros continentes por envolver mortes, ódio ao que
é estrangeiro, ideologias de superioridades raciais e etc.
É por isso que em competições europeias,
na execução dos hinos nacionais, a cantoria da torcida, dos atletas, das
comissões e dos chefes de Estados, é feita a plenos pulmões. Não só para
demonstrar a força de sua nacionalidade ou empurrar a seleção para uma possível
vitória, mas sim, o ódio histórico que envolve o continente assolado por
guerras e conflitos de ordem nacional e racial. É bonito de ser ver sim,
concordo. Mas repito e com a colaboração de Hannah Arendt, nem só de
Nacionalismo cívico (aquele nacionalismo criador de costumes, tradições e
cidadania) vive o mundo. Há entretanto, o Nacionalismo tribal ou chauvinista
(aquele que ocasiona conflitos e xenofobismo).
Em contrapartida, não é surpresa
para ninguém que os Estados nacionais, no continente americano, tenham obtido
sua soberania e autonomia nacional por meio de processos de independências dos
próprios Estados europeus. É evidente que algumas dessas independências foram
por meio de conflitos armados e outras por acordos entre colonizadores e
colonizados, mas o fato é que não houve tanto ódio ao que é estrangeiro como na
Europa. E a soberania conseguida é totalmente contextualizada nos hinos
nacionais, predominantemente na América do Sul, onde todos os hinos contém a
palavra “liberdade”. É com essa finalidade que são cantados os hinos nacionais
em competições no continente, um grito de liberdade, um grito de soberania, diferentemente
da tentativa de intimidação e supremacia da Europa.
Portanto, o ato de cantar o hino nacional
é um ato de cidadania mesmo que pareça o mínimo de civismo praticado por nós.
Entretanto, como uma tradição inventada e construída historicamente, é
impossível não lembrar e sentir a forma como nosso respectivo Estado nacional
foi construído, trazendo à tona os feitos, as bondades e até mesmo os mais capciosos
sentimentos no momento da cantoria.
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