Ah 2016! Uma avalanche de
emoções, sentimentos e casos que farão nos lembrar desse ano, assim como, nós
lembramos de anos tão fatídicos e importantes para a história – não se
referindo apenas à história brasileira mas também à história mundial ou por
assim dizer, a global. E é claro que esses eventos foram refletidos no ambiente
esportivo, já que o esporte se revela como um campo de manifestação cultural no
contexto histórico no qual se insere.
E se o esporte fosse um ser
racional, detentor de sua autonomia individual e de sua autonomia de vontade
tão invocado por Kant e não sendo apenas uma instrumentalização e uma
mercadoria da espetacularização da sociedade contemporânea e globalizada, o que
lhe caberia dizer sobre o ano de 2016? Quais seriam as suas angariações para os
próximos anos depois de tantos abalos?
De forma a dar início aos
argumentos, parto do pressuposto de que o esporte possui uma neutralidade
interna referente às suas posições ideológicas e políticas. Leia-se: O esporte possui essa neutralidade e é
nessa característica peculiar que o torna suscetível às manifestações de
diversas orientações ideológicas e políticas existentes em grupos sociais,
sociedades e nações. Além do mais, considerado um campo para essas
manifestações, de fato o esporte evidenciará preponderantemente, bem como
evidenciou ao longo de sua história desde a sua concepção no século XIX, as
vertentes econômicas-políticas e sociais dominantes em cada região inserido. Ou
seja, mesmo aberto à uma democracia de manifestos e bandeiras de movimentos
sociais, preferencialmente o que será mais refletido no esporte é a conjuntura
econômica e política atual.
É exatamente sobre isso que o
esporte diria sobre 2016. O advento talvez de uma antiga e nova ordem de
governo: o populismo de direita/extrema direita e ultra nacionalista em
detrimento de agendas neoliberais e globalizantes. Isto é, com as eleições de
Trump, o Brexit, a renúncia do Premiê da Itália, o possível e inevitável
desmantelamento da União Europeia e a volta de antigos poderes oligarcos e
monopolizantes na América Latina, o esporte deixou e deixará de ser, a partir
desse ano apenas um campo de refúgio para os sentimentos e valores nacionais
como fora nos últimos 30 anos de globalização e passará a insuflar o
nacionalismo como insuflou em períodos pré-guerras e em guerras.
O esporte também pode dizer que
haverá sim resistências das forças de oposições, movimentos sociais e
organizações que aproveitarão a sua proeminência na mobilização de grandes
massas para frear ou amenizar tais políticas para aqueles que as sofrem. Por
exemplo, em tepos de “terrorismos” e com intervenções militares de juntas
internacionais em locais onde criam tais ondas, o esporte pode ser sim um palco
para demonstrações de terror, xenofobismo e etc. Entretanto, pode representar
uma atitude simbólica com grandes benesses sociais como o Time de Refugiados
Olímpicos na Rio-2016, incluindo-os no maior evento sociocultural do mundo, os
Jogos Olímpicos.
Ah Jogos Olímpicos no Brasil! Num
ano tão conturbado economicamente e politicamente para nós, o esporte diria que
ele se ofereceu para ser um alento, uma destreza, uma beleza que beirou a
divindade para aqueles que sofrem assaltos e conluios de governantes de má
índole e que governam para uma parcela mínima da sociedade brasileira, mesmo o
evento no Rio ter sofrido excessos de preconceitos e leviandades da mídia
nacional e internacional. Um belo exemplo é a crítica ao nosso modo de torcer e
ao movimento de não vinda para o Brasil pelo surto de Zika. O esporte pode
considerar também como um alento, o bom futebol retomado pela seleção
brasileira nas mãos de Tite, contratado por aqueles membros da CBF tão
corruptos quanto os de paletó. Aliás, a importância da seleção em nos fornecer
alegrias em períodos conturbados é sempre de bom grado.
O esporte pôde nos dizer que é
simples reunir um conglomerado de pessoas e nações em torno de uma causa ou
solenidade como a tragédia da Chapecoense e também abalar e exilar, por motivos
políticos, movimentos libertários revolucionários como o Bom Senso Futebol
Clube.
Portanto, o danado do esporte
serviu em 2016 tanto para fortalecer poderes e governos já estabelecidos quanto
dar suporte para novas ordens de governanças. Serviu tanto para sublimar nossos
sentimentos ruins e nos fornecer alegrias como também nos fez perceber o nível
de ódio impregnado nas sociedades. Ele é democrático por
natureza e quem escolhe qual caminho ele trilhará são quem o pratica, o negocia
e o utiliza como ferramenta de intervenção, seja para o bem seja para o mal. E
para os próximos anos, evidenciará, dentro de campos esportivos, ações
conservadoras e ações liberais da mesma forma como a terceira Lei de Newton.
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