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24/03/2012


Copa de 98: Da quase consolidação à escuridão

Uma das maiores Copas do Mundo já realizada foi organizada pela França em 1998, sem aquele “ar” de guerra, regimes fascistas e nazistas que imperavam sessenta anos antes. Com a grandeza de um evento deste porte, pode-se dizer que o país anfitrião deu conta do serviço, apresentando um belo Mundial. Porém, um fato no último dia de festa do torneio fez com que ficasse na história do mundo da bola, um nebuloso acontecimento que colocou em dúvida o caráter de um jogador e de uma seleção e que também concretizou uma era no futebol, inaugurada por João Havelange – Presidente da FIFA de 1974 à 1998 – A era do futebol como um negócio. Afinal, o que aconteceu com Ronaldo no dia da final da Copa? Será mesmo que a CBF junto com a Nike – Maior patrocinadora da CBF e de Ronaldo – Venderam a final para a França?

De 10 de junho a 12 de julho, a bola rolou nos belíssimos estádios franceses com a participação de nada mais de que 32 seleções de futebol, um recorde proporcionado pela FIFA, devido ao número espantoso de 172 países dos cincos continentes inscritos para as eliminatórias e pelo mundo globalizado que surgia na época. De acordo com que ia realizando-se a Copa, observou jogos extremamente competitivos como a semifinal entre Brasil e Holanda; As quartas de final entre Itália e França e as oitavas de final entre Argentina e Inglaterra, ressaltando que esses três jogos citados, foram decididos nas cobranças de pênaltis e considerados uns dos melhores jogos de todas as Copas. Também vale a pena citar os jogos, Brasil e Dinamarca; França e Paraguai e Argentina e Holanda. Depois destes jogos épicos, a disputa da final da Copa ficou a cargo da França, seleção anfitriã e do Brasil, atual campeão e favorito. O jogo, três a zero para a França; Zinedine Zidane ídolo francês e carrasco brasileiro; Seleção brasileira irreconhecível parecia que todos estavam abatidos e apavorados com algo que tinha acontecido, deixando acontecer a maior derrota brasileira em todas as Copas.

Talvez, só uma pessoa saiba exatamente o que aconteceu naquele dia com Ronaldo, ele mesmo. Segundo a CBF e a comissão técnica de 98, Ronaldo sofreu uma convulsão horas antes do jogo que durou cerca de trinta segundos, provavelmente causado por stress emocional. Presenciado por alguns jogadores no hotel, o ocorrido fez com que abalasse psicologicamente todo o grupo, trazendo uma forte insegurança, já que estava perdendo o seu melhor jogador para uma partida que ficaria para a história. Ronaldo e os médicos da comissão técnica foram para uma clínica em Paris, para realização de exames neurológicos e cardíacos no jogador, enquanto isso no hotel, o técnico Zagallo e seu auxiliar Zico, faziam a preleção e com a informação de que Ronaldo não estaria em condições para jogar, Edmundo foi escalado. Ao chegar ao estádio, por exigência da FIFA, a escalação das duas equipes deveria ser publicada para a imprensa uma hora antes do jogo. Feito isso, o mundo se espantou em não ver o camisa nove no time titular e muito menos no banco. Meia hora depois, Ronaldo chega ao estádio portando os exames que constatava nada de errado, dizendo que não tinha nada e que não podia ficar de fora do principal jogo do Mundial. No mesmo momento, houve uma reunião entre a comissão técnica e Ricardo Teixeira – Presidente da CBF – e foi decidido que Ronaldo, que tinha um contrato de 90 milhões de dólares com a Nike, jogasse a final, sendo assim, publicada outra escalação, agora sim com seu nome. Nas horas que antecediam o jogo e durante a partida, absolutamente ninguém, fora a CBF e o grupo brasileiro, sabiam o que tinha acontecido, sendo revelado somente depois da partida.

Após o fato, vários boatos foram especulados, desde uma simples lesão a uma grande corrupção. Imediatamente, pensou-se que a CBF vendeu o jogo para o governo Francês, já que a França passava por uma crise social que envolvia vários descendentes de imigrantes e que era obrigação ganhar o torneio para amenizar a xenofobia e também pelo fato de que, a seleção brasileira tenha feito um jogo medíocre perto dos jogos brilhantes contra Chile, Dinamarca e Holanda. Outra falácia que especulavam era de que, a Nike tinha um contrato com Ronaldo contendo uma cláusula obrigando o atleta a participar de todos os jogos da Copa, forçando sua entrada depois do ocorrido no hotel e ainda lançando, naquela mesma partida, uma chuteira com seu nome, a R-9. Outro ponto em discussão, seria o interesse da Nike em patrocinar a seleção francesa – patrocinada na época pela Adidas – Assim a Adidas teria proposto para a Nike vender o jogo em troca do patrocínio, sendo que hoje, o patrocinador da França é a Nike. Talvez a teoria conspiratória mais compreensível e revoltante seja que, a CBF vendeu o jogo para a FIFA, ganhando assim a sede do evento no ano de 2014 e o título da Copa de 2002, assim a FIFA ofereceu 570 mil dólares – que na época valia quase um milhão de reais – a todos os jogadores e comissão técnica e o único jogador a ter recusado a mala preta foi Ronaldo, sendo obrigado a não entrar em campo. Outras balelas foram ditas, como problemas pessoais na família e um triângulo amoroso entre Ronaldo, Susana Werner – namorada na época – e Pedro Bial. Lesões no tornozelo e no joelho foram faladas também, assim como um possível envenenamento do jogador por um cozinheiro francês do hotel.

Ronaldo, aos quatorze anos, era um menino pobre do Rio de Janeiro que pegava vários transportes público para treinar e jogar no São Cristóvão. Aos vinte e um anos, já era nomeado por duas vezes o melhor jogador do mundo, jogava num dos melhores times e tinha um contrato em que ele faturava mil dólares à hora. Não foi à toa que dele se esperava e acreditava muito na Copa da França, ainda mais jogando bem. Mas essa esperança se transformou em pressão pela dinheirama que ganhava, pelo fervor da população e principalmente pela mídia que o cobrava para brilhar sempre e ganhar sempre. Assim, Ronaldo, como um ser humano normal, sucumbiu a essa pressão/cobrança e possivelmente teve aquela crise nervosa. Entretanto, dizer que um evento relacionado ao futebol, nos dias de hoje, foi vendido, é compreensível pelo negócio que a modalidade se transformou. De uns quarenta a trinta anos para cá, o interesse pelo esporte mudou, antes era por praticar algo e por vestir uma camisa que representava respeito e orgulho, hoje o interesse é exclusivo por dinheiro e poder para ver quem manda mais.

Nunca saberemos o que houve naquele dia, se foi vendido ou não e se realmente houve a convulsão, mas uma coisa é certa, o futebol tem um lado escuro, nebuloso, onde só as pessoas que o comandam e talvez as pessoas que o jogam tenham, a idéia do que se passa dentro dos escritórios e vestiários. Outra coisa intrigante é, como poderia o Brasil pensar em vender uma Copa do Mundo, sendo que, setores públicos, privados, creches, escolas do ensino fundamental, cursos superiores, bancos e todo o comércio interrompem seus expedientes só para acompanhar os jogos e em que a população canta seu hino durante todo um mês a cada quatro anos. Essa aclamação popular pelo evento não é diferente em relação aos jogadores. Qualquer garoto no Brasil e até mesmo garotas, sonham em entrar no estádio para jogar uma final de Copa do Mundo masculina ou feminina e esse é o ápice de quem joga futebol, ou seja, quando se está numa final, não se passa pela cabeça de ninguém em vendê-la e sim, simplesmente ganhá-la para poder ficar na história. Culpar somente Ronaldo, Zagallo, Zico ou a CBF pelo fracasso em 1998, não é certo, pois todos, inclusive a sociedade brasileira influenciada pela mídia, tem sua parcela de culpa, assim sendo, antes de acusar ou julgar qualquer pessoa envolvida, temos de pensar nas nossas atitudes para com aquele fato.
Escrito por Tiago Guioti

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