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29/09/2020

Campeonato Brasileiro Feminino: Ferroviária x Iranduba

A intensa maratona de jogos e o calor que vem fazendo contribuem para o cansaço das jogadoras e por isso o rodízio é mais do que necessário. Chega a ser parte de um planejamento que nossa cultura do futebol não aceita ou ainda não entende. 

Ferroviária com algumas alterações veio no seu habitual 4-4-2 sem a bola e 4-2-4 com a bola. Porém, dessa vez a alternância para o 4-2-3-1 sem a bola foi visto com o objetivo de espelhar o jogo do Iranduba com o intuito de fazer a marcação por encaixes. O Iranduba veio no 4-1-4-1 sem a bola e 4-2-3-1 com a bola.

No primeiro tempo, o jogo se revelou muito travado, bem fechado com ambos os times bem compactados. Não deixaram os ataques fluirem mesmo com as ações ofensivas serem frequentes. Jogadas de lado aproveitando amplitudes de laterais e pontas são predominantes. Gol do Iranduba sai aos 41 minutos numa infiltracao por trás da última linha de defesa da Ferroviária (algo que com linhas altas, isso pode acontecer)

No segundo tempo, mesmo com algumas mudanças, o jogo não mudou do seu formato do primeiro tempo a não ser o cansaço evidente das jogadoras. Não houve alterações nas plataformas de jogo e as marcações altas eram cada vez mais ausentes. A Ferroviária empatou aos 54 minutos numa bola alta e no erro da saída de bola da goleira.

O rodízio é necessário e temos que entender que isso é presente.

23/09/2020

Campeonato Brasileiro Série D 2020: Mirassol x Bangu

O Campeonato Brasileiro da Série D possui um nível técnico e competitivo melhor do que as divisões inferiores de campeonatos estaduais. Isso se deve pela quantidade de times diferentes, com investimentos e estruturas totalmente diferentes porém, com o mesmo objetivo. Na primeira rodada, analiso para vocês um belo de um jogo entre Mirassol x Bangu. Mirassol me surpreende ao trazer Eduardo Baptista como técnico. 

E como é um técnico não muito usual para trabalhar na Série D, Eduardo Baptista montou o Mirassol ala Guardiola: com a bola era 2-3-5 com saída de 3 e os laterais avançando muito na amplitude criando a linha de 5 no ataque. Sem a bola era no 4-1-4-1 pra espelhar o jogo apoiado do Bangu. E um 4-2-3-1 quando a saída de bola do Bangu era a bola longa. Conceitos de futebol mas acima de tudo, o conhecimento de como jogaria o adversário. O Bangu veio no 4-2-3-1 com e sem a bola numa forma bem reativa.

No primeiro tempo, ambos os times jogando numa compactação difícil de se ver em divisões inferiores. Mirassol muito mais com a bola, pressionando o Bangu, sempre tentando a superioridade numérica começando com a saída de 3. Bangu pressionado, fazia uma marcação média e bem compactado. Fez gol aos 43 minutos numa bola enfiada atrás da última linha (algo bem corriqueiro no futebol brasileiro quando a recomposição da última linha é lenta). As estratégias eram bem executadas e sabíamos que no segundo tempo certos comportamentos iriam mudar.

No segundo tempo, a única mudança foi na fase defensiva do Bangu: saiu do 4-2-3-1 e passou a jogar no 4-4-2 e abdicou de ter a bola (na verdade, já não tinha ela). O Mirassol manteve suas formações porém mais com a bola, fez o jogo ser um ataque versus defesa. Isso se perdurou até os 5 minutos de acréscimo com uma ótima atuação do goleiro do Bangu. Mesmo assim, não evitou o gol de empate do Mirassol por um dos muitos escanteios gerados por muitas finalizações.

Outro jogo do qual é possível ter uma pequena esperança de mudança no futebol brasileiro. A questão que faz com que percamos essa esperança é a imprevisibilidade do futebol e o resultadísmo.

Análise Paulista A3: Noroeste x Comercial

A volta da disputa da terceira divisão já reservava um confronto extremamente competitivo entre Noroeste (líder) versus Comercial. Nos foi fornecido na tarde de sábado (dia 19/09) um belíssimo jogo recheado com conceitos de futebol, comportamentos ofensivos e uma intensidade que é pouco visto em campeonatos desse nível. Noroeste x Comercial fez valer a espera pela volta e eu conto o por que.

O Noroeste veio num 4-3-3 sem a bola numa marcação alta e por encaixes na pressão no portador e com a bola, ora um 4-4-2 trapézio ou 4-2-3-1 (isso é a minha leitura do jogo). Já o Comercial veio no 4-4-2 variando para um 4-2-3-1 sem a bola e um 4-3-3 com a bola usando a saída de 3 é as vezes variando para um 3-4-3.

O primeiro tempo começa bem intenso. Marcações médias e altas por ambos os times, profundidades, jogos mais verticais do que de manutenção da bola e o uso de amplitudes de jogo para quem sabe criar a superioridade numérica. O primeiro gol sai aos 28 minutos do Noroeste por meio de um escanteio embora havia volume de jogo e de criações (erro na marcação por zona do Comercial). Após o gol, jogo continua da mesma forma. Marcação pressão alta do Noroeste, saída lavolpiana do Comercial buscando sempre a superioridade numérica e passes mais velozes no campo de ataque e sempre a busca do gol de ambos os times.

No segundo tempo, era pra ser um jogo diferente mesmo com as substituições (Noroeste reativo e Comercial pressionando). Porém, o jogo reservou algo bem melhor. A mesma intensidade de jogo, as mesmas ideias e busca pelo gol como se tivesse zero a zero. Sempre a pressão no portador da bola quando ela estava no meio campo para frente. Na defesa, apenas o Noroeste fazia pressão alta. Gol do Comercial sai aos 23 minutos com um gol contra num lance infeliz e imprevisível. Comercial virou o jogo aos 25 numa disputa pela segunda bola, jogada pela esquerda e cruzamento rasteiro para a finalização dentro da pequena área. Noroeste empata aos 30 em outro escanteio em um lance cheio de bate e rebate. O gol da vitória do Comercial vem aos 36 numa jogada que o atacante do Comercial sai da área pra dar opção de passe ao ataque, encontra o espaço aberto e finaliza de fora da área. Após o gol, até o fim do jogo, a intensidade se mantém e o Comercial não abdica da bola como costumeiramente times brasileiros fazem (principalmente quando jogam fora de casa).

O que vimos foi uma aula de futebol. Mesmo sem jogar a seis meses, os dois times mostraram que vieram melhor. Bom para o futebol brasileiro.

08/09/2020

Brasileiro Feminino A1: Ferroviária x Grêmio

A semana para o futebol feminino começou com uma proposta de ruptura com o passado e o presente de proibição, falta de incentivos e preconceitos com sua prática e profissionalismo. As notícias vindas da CBF parece fazer crer que há um caminho que possa ser seguido. Esperaremos para ver o desenrolar de toda essa situação. Enquanto isso, as partidas continuam em meio a pandemia e mortes. Além do mais, o protocolo é feito para aqueles que o querem cumprir e não feito para todos cumprirem. Uma pena.

A partida entre Ferroviária e Grêmio marcava um encontro de seis pontos. Quem ganhasse, escaparia do outro time. Por isso, foi recheado de intensidade e uma certa tensão. O time de Araraquara (rapaz, que calor) veio da mesma forma como na partida anterior relata aqui: Um 4-4-2 sem a bola e 4-3-3 triângulo com a bola usando a atacante numa função clara de pivô (a única alteração para esse jogo). O Grêmio veio num 4-1-4-1 sem a bola e 4-2-3-1 com a bola numa clara intenção de jogar na defensiva.

No primeiro tempo, a Ferroviária ficou mais com a bola, sempre tentando realizar um perde pressiona já no campo ofensivo ou fazer uma marcação média alta. Com a bola, suas triangulações, o usar uma atacante como pivô e profundidade não dão certo e os erros de passes são uma constante. Já o Grêmio, mesmo esperando a Ferroviária, conseguiu ser mais agressivo que o time da casa. Duas finalizações no gol, obrigado a goleira Luciana a fazer grande defesa. O gol do 1x0 do Grêmio sai aos 45 do primeiro tempo após a primeira jogada de infiltração do jogo dar certo a ponto de deixar a número 11 do Grêmio cara a cara com a goleira, deixar ela no chão e finalizar para o gol.

No segundo tempo: Não houve qualquer mudança em ambas as plataformas dos times. A mudança que teve foi comportamental. A Ferroviária mais intensa, mais agressiva em todo o segundo tempo. Amassou o Grêmio que fazia uma partida defensiva impecável mesmo sufocado. Pouquíssimos avanços do Grêmio ao ataque evidencia a clara proposta em se defender e segurar o resultado. As profundidades, os passes, a criação da Ferroviária melhora e muito. Ao não usar a atacante como uma referência de pivô e fazer com que ela circule, melhora o time no trato com a bola. Infelizmente esse controle não resultou em finalizações. Paradas para atendimento médico esfriou o jogo e deu a vitória ao tricolor gaúcho.

O comportamento tático e a aplicação das jogadoras em seguir as plataformas de jogo é algo brilhante.

02/09/2020

Brasileiro Serie B: Botafogo SP x Cuiabá

O campeonato brasileiro da série B possui os jogos dos quais eu analiso que tem ou era para ter a melhor qualidade técnica, física e tática. Posso dizer que nesse duelo, essa afirmação foi comprovada mas o contrário também se fez presente. A cultura do futebol brasileiro de abdicar de ter a bola e de não atacar quando o resultado é favorável, provoca no jogo e nas ideias algo ruim de se ver e uma perda de esperança em qualquer evolução futura. 

Pois bem, o Botafogo usou as seguintes plataformas no começo do jogo: Um 4-2-3-1 com a bola e um 4-3-3 em linha sem a bola. Já o Cuiabá utilizou apenas o 4-2-3-1 fazendo saída de três com a bola (com dois zagueiros e um volate). 


No primeiro tempo, ambos os times com a bola jogam e apresentam as melhores criações e ações apenas na verticalidade e nas bolas longas. Poucas coisas são criadas com a bola trabalhada embora o Cuiabá faça a saída de 3 lavolpiana com a bola. O gol do time visitante sai aos 29 minutos de escanteio, pois era a forma mais perigosa de atacar desde então. Após o gol, Botafogo tenta aumentar a velocidade de suas ações ofensivas porém,  apenas levando perigo em bolas paradas e cruzamentos. Nada mais acontece no primeiro tempo a não ser faltas de um jogo que se tornou pegado. 

No segundo tempo, duas alterações para o Botafogo mudam a forma do time jogar (jogando ainda pelos lados porém privilegiando o confronto um contra um) mas manteve seu 4-2-3-1 com a bola já sendo mais agudo que o primeiro tempo. Também muda sua plataforma de defesa para o 4-1-4-1. O Cuiabá se mantém no mesmo esquema, recua e joga no contra ataque. Botafogo mais dominante e perigoso, controla o jogo e empurra o Cuiabá pra sua defesa. Cria duas grandes chances em 15 minutos. Após a pressão do Botafogo, o Cuiabá se fecha e faz um 4-4-2 defensivo abdicando totalmente de ter a bola. Botafogo tenta a criação apenas pelos lados mas leva mais perigo quando aciona seu ponta para o confronto 1x1. O gol de empate sai aos 40 minutos numa jogada que refletiu exatamente a proposta do Botafogo para o segundo tempo: o confronto um contra um quebra uma das linhas do Cuiabá e é feito o cruzamento para a segunda trave e assim, a finalização.

Abdicar de ter a bola quando se é visitante no Brasil não é só uma regra e sim, uma cultura que precisa ser revista. O Cuiabá, que era líder, abdicou do seu jogo e tomou o empate quando poderia ter a bola e criar mais chances. 

São escolhas e elas têm consequências.