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30/08/2020

Brasileiro Feminino A1: Ferroviária x Internacional

O futebol feminino me encanta. Sua aplicação tática e o comportamento dos times para com as estratégias até o apito final é algo de encher os olhos de orgulho. A retomada depois de cinco meses e meio paradas se reflete ainda no aspecto físico. É aparente o cansaço físico no segundo tempo. Com os olhos de Pia Sundhage e sua comissão técnica, eu analiso como foi a partida entre Ferroviária x Internacional pela sexta rodada do Brasileiro feminino A1. 

A Ferroviária usou a plataforma do 4-4-2 sem a bola e no 4-3-3 no formato de triângulo com a bola. O Inter de Porto Alegre usou o 4-1-4-1 sem a bola e o que me pareceu também um 4-3-3 porém com uma linha de 3 e não um triângulo igual o time da casa. O primeiro tempo foi marcado pela igualdade no jogo (me refiro as atuações): os dois times usando marcações médias e compactações nas suas fases defensivas e de alguma forma certa verticalidade nas ações ofensivas. Destaco certo controle de ações para o Inter pela eficiência na sua verticalidade. As chances da Ferroviária vieram de erros do Inter principalmente em saídas de bola ou erros em gestos técnicos como domínio e passe. No final do primeiro tempo, a Ferroviária toma conta das ações embora o jogo seja muito igual e aberto. Boas jogadas e ótimas trocas de passe de ambos os times principalmente fazendo as jogadoras mais avançadas a atacar os espaços. Ótima partida de ambas as goleiras merece ser destacado pela quantidade de finalizações criadas. 

No segundo tempo, os dois times voltaram com as mesmas formações, sem alterações e com os mesmos controles do jogo. As ações ofensivas não mudam embora o Inter sofre com a quantidade enorme de impedimentos. A Ferroviária faz o 1x0 numa jogada ensaiada de bola parada (escanteio) aos 12 minutos do segundo tempo (uma finalização fantástica da camisa 10). Mesmo após o gol, o jogo permanece igual até a mudança do Inter: sai uma zagueira e entra uma meia (deslocando uma volante para a defesa), a plataforma defensiva muda para o 4-4-2 mas a ofensiva continua no 4-3-3 para dar uma mobilidade maior no meio campo. Já a Ferroviária também faz alterações: saca uma meia e põe uma zagueira e troca duas atacantes de mais velocidade pra abdicar da bola e jogar no contra ataque. O jogo muda e o Inter intensifica e marca na pressão alta até que aos 90 minutos de jogo chega ao empate numa jogada de desarme no campo ofensivo, tabela com toques rápidos no lado do campo, cruzamento por baixo e rebote da goleira da Ferroviária. O que veio depois do 1x1 foi a emoção que o futebol causa: a virada do Inter aos 93 minutos o Inter com um cruzamento, a atacante faz um leve desvio, a bola bate na trave e depois gol contra da goleira da Ferroviária. 

Uma virada em 3 minutos. As alterações do Inter deram certo: sua marcação alta e intensidade fizeram a diferença no final do jogo. 

Futebol é emocionante e brochante ao mesmo tempo.  



27/08/2020

Paulista A2: Monte Azul x Portuguesa Santista

Monte Azul x Portuguesa Santista jogaram pela permanência na zona de classificação para a próxima fase. Diferente de ser um jogo que define rebaixamento, um jogo de classificação, na nossa cultura de futebol, requer uma certa cautela na forma de jogar e um conservadorismo que tira a qualidade do futebol executado. 

Jogando no 4-2-3-1 sem a bola mas num 4-3-3 com ela, o Monte Azul muda a forma como jogou na última rodada. Vieram com três atacantes (os três de ofício centro-avante) recuando dois deles na fase defensiva para compor a linha de 3 do 4-2-3-1. A Portuguesa Santista veio no 4-2-3-1 sem e com a bola com uma proposta de jogo marcando alto e tentando ser reativo. O medo de perder de ambos fez com que o jogo ficasse sem criatividade e com muitas faltas até a parada técnica. Depois dela, o Monte Azul inverte os atacantes de lado e faz o seu meia, que antes caia pela esquerda do ataque, caísse mais pela direita. O resultado deu certo. O Monte Azul passa a dominar as ações no meio, aumenta sua criatividade até que aos 45 minutos o gol acontece num desarme no campo ofensivo e finalização de um dos atacantes improvisados como ponta de fora da área. 

No segundo tempo, ambos os times voltam com as mesmas plataformas e com as mesmas falta de criatividade do começo do primeiro tempo. A única mudança de comportamento foi o jogo ser mais intenso no sentido da emoção e mais brigado. Mesmo com as substituições, nada de muito concreto acontece a não ser a quantidade alta de faltas (32 o jogo todo). Após, a parada técnica do segundo tempo, o Monte Azul abdica de vez de jogar e passa a atuar sem a bola num 5-3-2 congestionando totalmente a frente da grande área. Deu certo, mesmo que no final tenha tido um pênalti desperdiçado para fora pela Portuguesa Santista. 

O 1x0 conservador revelou que teve mais intensidade fora do campo do que dentro.   

26/08/2020

Paulista A2: Penapolense x Red Bull

A penúltima rodada do Paulista A2 reservou um confronto direto contra o rebaixamento. Penapolense x Red Bull era o jogo decisivo para ambos e sob essas condições a única e exclusiva importância era o resultado.

Por isso, venho sempre dizendo aqui, por mais ruim ou inferior a qualidade técnica das partidas, há sim ideias e conceitos de jogo aplicado, plataformas pensadas e adaptadas de acordo com a situação do jogo. Pois bem, os dois times vieram para o começo do jogo numa plataforma do 4-2-3-1 com e sem a bola (o esquema mais utilizado que eu já vi) com o RB muito mais compactado, com as linhas altas e na defensiva (bem raro ver times compactados). A Penapolense já sabia dessa compactação e apostava sempre na verticalidade e nas bolas pelas costas dos laterais do RB para tentar aproveitar o amplo espaço até o gol. Com isso, as principais chances (e não foram poucas) foram da Penapolense, dominando as ações. Com a bola, o RB tinha apenas uma jogada característica: as tentativas de bola enfiada nos pontos futuros. Com essa tônica do primeiro tempo, a defesa do RB trabalhou junto com o goleiro. Porém, quem marcou o 1x0 foi o próprio RB num gol contra e de escanteio.

No segundo tempo, pelo desespero do resultado, a Penapolense muda sua forma de jogar: manteve 4-2-3-1 sem a bola mas optou por jogar no 4-3-3 com dois volantes e um meia formando um triângulo. Como o jogo era de suma importância para ambos, para segurar o resultado o RB também mudou sua plataforma mais drasticamente: 5-4-1 sem a bola e no 3-4-3 com a bola optando pela transição rápida para os contra ataques. A consequência dessa mudança toda foi um segundo tempo ataque contra defesa. O exemplo disso foi os doze escanteios que a Penapolense teve, várias finalizações criadas no gol e fora dele e a esperteza em usar a amplitude do time para tentar furar o ferrolho do RB. O 1x1 veio mas no final do jogo um pênalti para o RB deu a vitória de 2x1. 

O resultado fez os dois times trocarem de posição. A Penapolense foi para a zona de rebaixamento e o RB é o primeiro fora dela. 

E o futebol é algo tão incerto que mesmo controlando todos os aspectos do jogo, a derrota ainda é muito presente. 

22/08/2020

A retomada do Paulista A2: Monte Azul 1x3 Penapolense

Não podemos dizer ainda que estamos no pós pandemia. Ainda estamos nela mesmo a vida entrando forçada á normalidade. O Paulista série A2 voltou depois de cinco meses e uma semana de parada. O jogo em questão foi entre Monte Azul (que antes da parada estava na zona de classificação) contra a Penapolense (que estava na zona de rebaixamento). Se a pandemia foi dura com os times grandes, em relação ao times pequenos ela foi mais cruel. O Monte Azul perdeu cinco jogadores, todos importantes para a manutenção do time na primeira parte da tabela. Já a Penapolense perdeu dezoito jogadores, ou seja, houve uma reformulação quase que total no departamento de futebol do clube. 

Sobre o futebol dentro do campo, é realmente necessário falar que não era de se esperar uma boa qualidade do jogo em conceitos e ideias depois de cinco meses sem atividades. O Monte Azul, mandante, veio numa plataforma de jogo bem comum nas divisões inferiores dos campeonatos estaduais: um 4-2-3-1 com e sem a bola. Por outro lado, venho sempre ressaltando aqui, quando um time do interior vem com duas plataformas de jogo. Assim fez a Penapolense jogando no 4-4-2 sem a bola e no 4-2-3-1 com a bola. 

Qualquer que seja o conceito de futebol treinado e pensado, ele pode ser prejudicado ou facilitado por um gol aos dois minutos. E isso o que aconteceu com a Penapolense ao abrir o placar numa jogada trabalhada no canto esquerdo do seu ataque, atraindo a maioria dos defensores do Monte Azul para esse lado e assim, fazer a virada de jogo para o lateral oposto vir nas costas da defesa e cruzar para a finalização do atacante. Ideias treinadas mas também contando com muita inteligência dos jogadores ao ter essa tomada de decisão. Após o gol, as duas linhas de 4 da Penapolense e sua marcação média e alta inibiram quaisquer construção de jogadas do Monte Azul por boa parte do primeiro tempo. Mesmo assim, as maiores ações e finalizações foram da Penapolense pois era mais aguda, mais vertical e intensa com a bola do que o Monte Azul.

Para o segundo tempo, a Penapolense troca um meia por um atacante e passa a jogar no 4-3-3 com a bola (essa foi minha leitura do jogo) para aproveitar melhor a sua verticalização e manteve o 4-4-2 na fase defensiva com sua marcação mais média do que alta porém, privilegiando o perde pressiona (pouco visto em jogos de divisões inferiores). O Monte Azul, mesmo precisando do reverter o placar, se manteve na mesma plataforma de jogo. O jogo era bem parecido como o que foi no primeiro tempo: Monte Azul tentando acelerar o jogo porém, utilizando apenas de cruzamentos para tentar alguma finalização. A marcação com duas linhas de 4 realmente é muito complicada de furar quando ela é feita de maneira correta. 

Aos 14 minutos, a Penapolense amplia para 2x0. No minuto anterior ao segundo gol, o Monte Azul se torna ousado (e não deve ser tecido nenhuma crítica a isso, muito pelo contrário) e tira o lateral esquerdo para por mais um atacante, improvisando um volante na lateral. O ruim disso, é que na volta ao jogo, a Penapolense marca justamente numa jogada de dois contra um e uma ultrapassagem no lado esquerdo da defesa do Monte Azul após pressionar sempre a segunda bola (rebote) de uma bola longa. Culpar a comissão técnica do Monte Azul é não entender o jogo e usar de resultados para apontar erros e acertos. 

Após o segundo gol, a Penapolense se mantém intensa e veloz na sua verticalidade com a bola e agora abdicando da sua posse, já que estava saindo da zona de rebaixamento, para aproveitar melhor o contra ataque. Mesmo com a posse de bola, o Monte Azul me pareceu sem saber o que fazer com ela, exagerando nos cruzamentos. Foi assim que o time da casa fez o 2x1 num erro da defesa da Penapolense aos 18 minutos de jogo. Apesar, do placar próximo, quem tomava mais as ações ainda era a Penapolense e foi assim até os 50 minutos do segundo tempo, quando numa interceptação na saída de bola do Monte Azul, gerou um contra ataque de dois contra um para fazer o 3x1. 

O resultado tirou a Penapolense da zona de rebaixamento e também tirou o Monte Azul da zona de classificação. 

A qualidade do futebol ainda é pequena mas posso garantir que há ideias sendo pondo em práticas.