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28/03/2022

Troféu do Interior: Botafogo x Inter de Limeira

Minha primeira cobertura no estádio Santa Cruz em Ribeirão Preto teve chuva e frio em março. O estádio é gigante mas os aspectos que fazem a torcida ir são quase eles contrários ao ato de torcer in loco na sua totalidade. O duelo com a transmissão, a chuva, a arquibancada a céu aberto, o preço dos ingressos e a proibição da venda de bebida alcóolica afastam o torcedor mais do que a insegurança ou violência. Mesmo assim, com um público de 1500 pessoas aproximadamente para um estádio que cabe 30 mil, as torcidas organizadas fizeram barulho e deram alma ao jogo. 

A partida em si, aos olhos de quem quer ver gol, ficou devendo no primeiro tempo. Porém, para quem o analisa, trabalha ou sabe meramente sobre futebol, foi uma partida e tanto no sentido das ideias de jogo e nas ações no campo. O Botafogo me surpreendeu: veio no 5-2-3 sem a bola com uma marcação média-baixa (marcando para trás da linha do meio campo) com uma linha de 5 muito bem definida e montada. E no 3-4-3 com os laterais da linha de 5 virando alas e claro, utilizando a saída de 3 (privilegiava as ações ofensivas nos lados e na profundidade). A Inter de Limeira veio no seu clássico 4-2-3-1 com a bola sem muitas diferenças na forma de tratar a posse e no 4-4-2 sem a bola diferentemente do 4-2-3-1 utilizado em Araraquara na sexta. A mudança provavelmente veio para frear a amplitude de jogo do Botafogo. 

Novamente, o primeiro tempo foi bem estudado. A princípio, o Botafogo iria deixar a bola com a Inter por ela não ter uma proposta de jogo com posse de bola. No começo deu certo. O time da casa viu que poderia mais se atacasse em transição pelos lados. Até porque mudar a forma de jogo do 5-2-3 para o 3-4-3 precisa de muito treinamento e é mais rápida essa transformação do que o 4-2-3-1 para o 4-4-2. Quando um time tinha a bola, o outro se fechava muito bem. Bolas longas foram utilizadas por ambos os lados e as finalizações vinham da maior parte de cruzamentos e chutes de fora da área. 

No segundo tempo, o que nos reservava era que certamente o jogo não iria para pênaltis. Sem alterações nas plataformas de jogo, as ideias e as ações eram as mesmas. Entretanto, logo aos 49 minutos, após uma bola na trave, no rebote e cruzamento, a finalização em gol para abrir o placar para o Botafogo. Mudanças seriam vistas? Nem tanto. Apenas uma forma de atacar foi incorporada pelo time da casa: ao tentar o empate, a Inter tentava empurrar o mini ferrolho botafoguense para sua área. Deixava espaços para as bolas longas nas costas dos zagueiros e espaços pelos lados para que o jogo de transição fosse feito. Com isso, sem levar perigo ao gol do Botafogo, a Inter tomou um lançamento em profundidade que deixou o atacante cara a cara com o goleiro para ampliar o 2x0. 

Com esse resultado e com a expulsão do volante da Inter, restou tentar controlar o jogo e esperar o tempo passar. Ainda aos 96, o Botafogo amplia para tentar uma vaga na Copa do Brasil 2023. 

Vida longa as torcidas visitantes. 

Brasileiro Feminino A1: Ferroviária x Internacional

Mais uma partida do campeonato brasileiro feminino da primeira divisão. A invicta Ferroviária de Araraquara enfrentou o time de Porto Alegre pela quarta rodada. Um dia cansativo e pesado de viagem pesou para a minha análise do jogo. Não consegui com tanta clareza tentar estabelecer os padrões de jogo. 

A Ferroviária veio no seu habitual plataforma de jogo do 4-3-3 (uma das melhores em manter a posse de bola). Usava esse mesmo modelo e uma variação do 3-4-3 com a bola e o 4-4-2 sem ela. Já o Internacional veio com uma proposta de jogo bem defensiva: um 5-4-1 sem a bola com três zagueiras fixas e linhas bem baixas e um 3-5-2 na sua fase ofensiva. 

O primeiro tempo foi de amplo domínio das donas da casa. A Ferroviária com sua posse de bola e marcação pressão deu muito trabalho para a defesa do Inter mesmo usando um ferrolho. Rodava a bola sem pressa e muitas vezes em profundidade. Seu 3-4-3 era mais eficiente contra a linha de 5 e 4 e gerava finalizações de fora e dentro área, assim como, bolas n trave. Mesmo com tanta pressão, a Ferroviária só marcou aos 36 minutos e aos 45 do primeiro tempo, já meio que consagrando o resultado do jogo. 

No segundo tempo, a Ferroviária manteve sua plataforma de jogo mas o Internacional mudou. Com 2x0 nas costas precisava agir e agiu: abdicou de todo o seu ferrolho e sua linha de 3 baixa. Jogou no 4-2-3-1 com e sem  a bola e tentou fazer um marcação alta. A ideia mudou o parâmetro do jogo porém, apenas igualou a performance do jogo. A Ferroviária passou a atacar mais os lados do campo e tentou controlar a posse de bola afim de fazer o tempo passar. 

O resultado final foi o 2x0. A Ferroviária continua invicta.

26/03/2022

Paulista A1: Ferroviária x Inter de Limeira

Colocar uma partida as 21 horas de uma sexta feira chuvosa é para espantar o torcedor mais raiz possível dos estádios. Há muitas prerrogativas que fazem essa rejeição surgir. A pior delas é definitivamente o horário nada atrativo. 

Ferroviária x Inter de Limeira fizeram um duelo pelo Troféu do Interior. Antes da partida, o técnico da Ferroviária, Elano, anunciou que não ficaria mais no cargo. Não sei se isso é o mais correto a se fazer antes de uma partida. O clima entre time e torcida era frio e tenso a ponto de que a torcida visitante cantou mais alto o jogo todo. 

A Ferroviária veio na plataforma de jogo do 4-3-3 usando esse sistema com a bola, alternando com o 3-4-3 usando a saída de 3. Sem a bola, veio no 4-3-3 bem compacto que quase virava um 5-4-1. A Inter de Limeira veio no 4-2-3-1 com e sem a bola no seu estilo clássico de ações. 

O primeiro tempo foi de amplo domínio dos mandantes. Aproveitando bem sua imposição pela posse de bola, a Ferroviária atacava bem, finalizava de várias formas e assustava muito o gol visitante até chegar ao gol aos 19 minutos num cruzamento. Este domínio poderia concretizar em mais gols porém, a Ferroviária já dava indícios de recuo. 

No segundo tempo, a Ferroviária recua por completo e se pauta no jogo reativo mantendo sua plataforma de jogo. A Inter também manteve seu jogo porém, com uma única alteração: usava a saída de 3 mantendo 4-2-3-1. Isso não deu resultado. Muito pelo contrário. Resultava em inferioridade numérica na defesa quando perdia a bola e a Ferrinha usava a transição rápida. Mesmo assim, a ampliação do placar não veio. Ao refutar a saída de bola, a Inter começa a assustar o gol apenas nos últimos 15 minutos de jogo após o cansaço do time mandante. 

Mesmo com cara de 1x0, aos 91 minutos, a Inter empata numa jogada em profundidade onde a defesa da Ferroviária pouco marcou. O empate levou aos pênaltis e com uma bola no travessão, a Inter de Limeira passou para as semi do Troféu do Interior. 

24/03/2022

Brasileiro Feminino A1: Ferroviária x Flamengo

 Já escrevi aqui inúmeras vezes sobre o quanto é magnifico trabalhar em esportes femininos. Os comportamentos e as ações no jogo são mais bem executadas e detalhadas e a disciplina com a estratégia é seguida a risca mesmo tendo a exaustão como inimiga. 

Ferroviária e Flamengo fizeram uma partida para a disputa pela parte de cima da tabela do Brasileiro feminino A1. Um jogo bem equilibrado mas que teve a arbitragem como um fator para que o jogo não se desenvolvesse tanto quanto os times pensaram. A propósito, em outros jogos trabalhados, o quarteto de arbitragem eram sempre composta por mulheres. Porém, nesse jogo eram apenas homens. 

A Ferroviária veio numa plataforma de jogo do 4-3-3. A plataforma, penso eu, é uma ideia que possa ser executada porque na verdade, a Ferrinha jogou no 3-4-3 com a bola e no 4-4-2 sem a bola. O Flamengo, com uma proposta mais defensiva e reativa, veio no 4-2-3-1 com a bola e ora no 4-3-3 ora no 4-4-2 sem a bola. 

Num jogo mais propositivo, a Ferroviária dominou os primeiros 15 minutos de jogo. Usando sua saída de 3 e tornando as laterais como alas, tentava empurrar o Flamengo que no começo do jogo não encaixava sua marcação. Mesmo com uma bola na trave, quem fez o primeiro gol foi o time carioca após uma rápida transição ofensiva aos 20 minutos de jogo. Entretanto, esperando alguma mudança de comportamento, o jogo se deu da mesma forma: Ferroviária com a posse, rodando a bola e tentando as jogadas entre linhas e o Flamengo na defensiva. As tentativas de ataques eram tantas que a Ferroviária conseguiu o empate ainda no primeiro tempo, em uma jogada maluca com muito bate e rebate dentro da pequena área aos 47 minutos. 

No segundo tempo, utilizando mais o 4-4-2 na marcação, o Flamengo voltou com a mesma proposta, assim como, a Ferroviária. Não houve quaisquer mudanças em suas respectivas plataformas. O único comportamento que mudou foi da arbitragem. Parando o jogo demasiadamente e e apitando faltas em momentos importantes, fez com que as ações, principalmente ofensivas, fossem sendo podadas ao longo do segundo tempo. No mais, poucas chances criadas de ambos os lados fizeram com que a partida terminasse empatada. 

De fato, o nível técnico dos times femininos vem aumentando a cada temporada. E isso é ótimo.  

14/03/2022

Paulista A2 - Penúltima rodada: Monte Azul x Rio Claro

Uma das partidas mais difíceis que eu cobri na vida. Não por causa das condições externas ou por algo bem diferente que tenha acontecido no jogo. Mas sim, pela perda da minha cachorrinha na noite interior. Ainda com os olhos marejados e pensando no luto, fui a Monte Azul Paulista fazer o último jogo como mandante do time da cidade onde me sinto bem acolhido. 

Monte Azul x Rio Claro fizeram um duelo de opostos. Enquanto o time da casa brigava contra o rebaixamento, o time visitante ainda briga para uma vaga no G8. Após perder na ultima rodada para o São Bento e com o empate do Audax no sábado, o Monte Azul precisava apenas de uma vitória simples parase garantir na A2 do Paulista. 

Confesso que foi uma partida difícil de analisar porém, o Monte Azul surpreendeu na sua fase ofensiva: ao invés de 4-2-3-1 com a bola, eles vieram numa proposta nova de jogo, um estilo 3-3-4 com saída de 3 com dois zagueiros e um volante espetando os dois laterais na amplitude. Além do mais, mantiveram seu 4-4-2 sem a bola. O Rio Claro veio no 3-4-3 com saída de 3 ou um 4-2-3-1 com a bola e também no 4-4-2 sem a bola. 

O primeiro tempo, posso dizer que foi mais tenso do que jogado. A pressão do jogo fez cair sob a qualidade da partida. Poucas coisas puderam ser analisada a não ser a nova proposta do Monte Azul em que fazia o número 10 flutuar para servir a linha de 4 "atacantes". Bem compactado na defesa, fez o Rio Claro tentar a velocidade nas transições para chegar perto do gol. Porém, quem faz o 1x0 é o Monte Azul, após levantamento de bola do camisa 10 para encontrar a cabeçada do camisa 3 aos 40 minutos do primeiro tempo. 

Após o intervalo, a expectativa era de aproveitar a compactação do time da casa e recuar esperando o final do jogo. E foi isso o que aconteceu mesmo sem nenhuma mudança nas plataformas de jogo de ambos os times. Apenas a adoção do 4-2-3-1 pelo Rio Claro quando se tinha a bola. Aos 66 minutos, o Rio Claro fura a retranca e empata com um cruzamento na segunda trave pegando as costas da defesa do Monte Azul. O abatimento de todo o estádio era escutado porque a luta contra o rebaixamento viria só na última rodada. 

Eis que aos 81 minutos de jogo, após uma das únicas jogadas trabalhadas do Monte Azul, uma troca de passe resultou numa finalização de fora da área do camisa 8. Só restou fazer de tudo para a partida terminar e assegurar a permanência do Monte Azul na A2. 

Um jogo difícil para mim e difícil para o Monte Azul. 

06/03/2022

Paulista A2 - 12 Rodada: Monte Azul x Juventus da Mooca.

 Comecei a ler "A Pirâmide Invertida" de Jonathan Wilson. Livro bem didático sobre a história da evolução tática no mundo do futebol. Já no seu Prólogo, o autor (para a tradução brasileira) diz que umas das coisas mais importantes para uma boa execução das ideais de jogo se passa pela confiança. Eu não respondi a questão de um milhão de dólares porém, ao acompanhar um time na briga contra o rebaixamento, a palavra confiança permeia a todos. Quando digo todos, são todos mesmo: os jogadores, comissão, funcionários, torcida e imprensa.

Monte Azul x Juventus faziam um duelo pela parte de baixo da tabela. Num sol e calor forte na sempre acolhedora Monte Azul Paulista, a presença da torcida se dava pelas mesmas pessoas de sempre. A única diferença é que 13 pessoas vindas da Mooca fizeram mais barulho no jogo todo do que as 200 pessoas da cidade. Isso me remeteu a uma questão: Por que será que não discutimos a volta da torcida visitante em grandes jogos de SP?

Enfim, analisando a partida, o Monte Azul veio na sua forma de 4-2-3-1 com a bola e no 4-4-2 sem a bola. O interessante (ou não) foi perceber que o Juventus atuava com ambas as plataformas de jogo. 

No primeiro tempo, a pressão e a posse de bola era maior da Juventus do que dos donos da casa. Leia-se pressão e posse de bola um pouco melhor e mais trabalhada. O futebol jogado não teve uma qualidade nas execuções das ações nos primeiros 45 minutos. O calor era forte e era difícil exigir de algo a mais nesse momento. O algo a mais deveria vir de Monte Azul que naquele momento ocupava a zona de rebaixamento. 

No segundo tempo, ambos os times voltaram com suas ideias e plataformas de jogo da mesma maneira. As substituições se davam por meio de trocar uma peça por outra e tentar um gol de qualquer forma. O de qualquer forma chegou. Na verdade, num erro claríssimo da arbitragem que validou o gol de cabeça do Monte Azul aos 69 minutos de jogo, numa falta no goleiro da Juventus. O caos se instala pelo lado dos paulistanos mas o jogo volta a rolar. Saindo da zona de rebaixamento, era previsível que o Monte Azul recuasse e adotaria um esquema mais forte de marcação: optou pelo 4-5-1. Infelizmente, essa muralha de defesa durou 14 minutos pois, aos 83, a Juventus (que passou a atacar mais pelas laterais, conseguiu um cruzamento na segunda trave que culminou na finalização a queima roupa). 

A comemoração foi clara para cima da arbitragem.  Mesmo com o clima de velório, já sentindo um possível rebaixamento para a A3, o Monte Azul foi para o ataque da forma como que dava e na única jogada trabalhada de pé em pé, circulação e a abertura de espaços, o time da casa faz o 2x1 no último minuto de lance, num golaço. 

O Monte Azul saiu da zona de rebaixamento e a luta continua.