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27/12/2020

Superliga Masculina 2020/2021: Jogos Vôlei Ribeirão em dezembro de 2020

 Diferentemente do futebol, os jogos de vôlei possuem claros favoritos e quase nula a chance de uma zebra acontecer. O motivo disso não é somente porque esse esporte proporciona isso mas sim, as suas diferenças em orçamentos e investimentos fazer a diferença. Desde a folha salarial a estrutura como um todo. Infelizmente, o Vôlei Ribeirão luta bravamente tendo uma defasagem nesses quesitos mas continua na sua série de derrotas. 

No primeiro jogo contra o Vôlei Itapetininga, se mostrou uma verdadeira batalha de 5 sets sendo que o tie break foi decidido no 24x26. As estatísticas dos fundamentos foram quase as mesmas: 16,2 x 16,4 pontos de ataque em média no jogo para ambos; 5x1 em aces para o time da casa; 7x12 bloqueios para o Itapetininga e os mesmos números de erros cedidos no total: 28 x 28. O que definiu o jogo foram pontos estratégicos de aces e bloqueios. Pelo menos, a evolução do Vôlei Ribeirão é notória e a obtenção de um ponto deu um mero alivio. 

O segundo jogo analisado foi o mais tenso dessa jornada. Com direito a muitos erros de arbitragem e decisões polêmicas, discussões entre jogadores e entre comissões técnicas, o jogo teve um final não muito esperado pela competitividade que se viu. Resultado final: 1x3 sets para o Blumenau com 13 pontos de ataque em média por set para o Vôlei Ribeirão e 11,75 pontos de ataque de média para o Blumenau; 1x3 aces para o Blumenau; 5x13 em bloqueios para os visitantes e 22x 34 erros cedidos. Com esses números podemos afirmar que o número de pontos por erros e pontos por bloqueios definiram a partida. Além do mais, nos momentos em que os pontos de bloqueios (que foram quase o triplo para os visitantes) aconteceram é o que foi determinante para o encerramento do quarto set e para o jogo. 

O campeonato continua. 

13/11/2020

Superliga Masculina de Vôlei 2020/2021: Vôlei Ribeirão x Caramuru Vôlei

Na noite da quinta feira dia 12/11, Vôlei Ribeirão e Caramuru Vôlei de Ponta Grossa fizeram um confronto bem equilibrado pela terceira rodada da Superliga Masculina. Ambos os times precisando da primeira vitória, forneceram ao jogo bastante competitividade, equilibrio e tensão. Vendo o placar final em 1x3 sets para o Caramuru, não se percebe o quão foi igual o jogo e assim, lhe trago as parciais: 21x25/25x23/23x25/23x25. 

No primeiro set, a expectativa era de muitos pontos cedidos por erros de ambos os times. Mas o que viu foi ao contrário. Os ataques funcionaram bem sendo o Caramuru anotando 15 pontos de ataque dos seus 25 no set e o Vôlei Ribeirão anotando 14 pontos de ataque dos seus 21 pontos. O que fez a diferença no placar foram os erros cedidos pelo time da casa: 7x3. 

No segundo set, o equilibrio se viu até o último ponto dando ligeira vantagem para o time mandante e assim, seu primeiro set conquistado na Superliga. A grande diferença foi nos pontos de ataque, já que dos 25 pontos, o Vôlei Ribeirão anotou 19 de ataque contra 15 do Caramuru conseguindo fazer o controle dos pontos de erros cedidos (apenas 5 para cada lado). 

No terceiro set, a pontuação de ataque foi de 14x14 para ambos; 7 pontos de erros cedidos por Vôlei Ribeirão e 6 pelo Caramuru; e o que fez a diferença, os pontos de bloqueio: 2x4 e os aces: 0x2.

No quarto set, a impressão era de equilibrio e assim, tie break. Porém, nos últimos pontos, Caramuru faz a virada e leva o jogo por 3x1. Detalhe nesse set, foi a discrepância nos fundamentos, mesmo tendo o placar em 23x25: 7x 17 pontos de ataque; 3x2 pontos de bloqueio; 0x1 em aces e 13x5 em pontos cedidos. 

O confronto merecia o quinto set. Ganhou quem mais atacou no total: 54 pontos de ataque para Vôlei Ribeirão e 60 pontos de ataque para Caramuru. 

10/11/2020

Paulista Quarta Divisão: São Carlense x Inter de Bebedouro

Outro campeonato em que as ideias de futebol e seus conceitos são pré julgadas por supostamente "não ter ideias ou estratégias de jogo". O que venho demonstrando aqui é exatamente ao contrário. Existem as plataformas de jogo, as estratégias, os conceitos e as ideias. A questão que reflete ser a quarta divisão é na aplicação e na execução dessas ideias. 

O jogo do texto é um exemplo disso. Grêmio São Carlense x Inter de Bebedouro fizeram um jogo digníssimo em suas propostas e o empate em 1x1 refletiu esse embate igualitário. O São Carlense veio no seu habitual 4-4-2 sem a bola e no 4-2-3-1 com a bola. Já a Inter de Bebedouro nos surpreendeu: saiu do seu ultrapassado 4-2-3-1 com e sem a bola e jogou num 4-1-4-1 sem a bola e no 4-3-3 com a bola (isso mesmo: um 4-1-4-1 na quarta divisão paulista).

No primeiro tempo, a expectativa era de uma vitória dos mandantes pelo nível de expectativa e a diferença na tabela. Porém, o que se viu foi uma ampla vantagem e domínio da Inter de Bebedouro. Impecável na marcação, fazendo bloco médio e utilizando do jogo físico para se sobressair. No ataque, utilizava de bolas longas para o pivô e ou para os dois pontas correrem na verticalidade em confronto 1 contra 1. Logo aos 4 minutos de jogo, gol da Inter numa jogada lateral e finalização cruzada no ângulo. Mesmo com o 1x0, a iniciativa e a posse de bola era toda da São Carlense com poucas chances criadas, mas as criadas foram de bastante perigo. 

No segundo tempo, ambos os times voltaram da mesma forma, inclusive com as mesmas propostas. Claro que a mudança foi o ganhar tempo da Inter de Bebedouro. Mesmo assim, duas linhas de quatro estacionadas na frente do gol fizeram com que o time da casa sofresse com espaços e as criações de finalizações. A maior parte delas foram de escanteios e ou bolas parada. De tanto bater nas paredes e abusar de cruzamentos e bolas altas, o São Carlense chegou ao empate aos 82 minutos numa finalização de fora da área. 

O resultado não foi justo pelo o que apresentou a defesa da Inter. Por outro lado, foi justo o empate na questão do ímpeto de ambas as equipes. 

Brasileiro Série D 2020: Mirassol x Cascavel

 A importância da manutenção de um trabalho com objetivos a longo prazo no futebol brasileiro deveria ser mais colocada em pauta em nossas discussões. Outras questões ligadas a esse tema também podem ser incluídas, como por exemplo, a manutenção ou não de somente uma ideia de jogo, a variação tática ou o jogar de acordo com o adversário. Acredite em mim, esses pontos ocorrem em outras divisões do futebol brasileiro e a quarta divisão está aqui para demonstrar isso. 

Mirassol x Cascavel fizeram um jogo de manutenção na zona de classificação para a próxima fase. Deveria ser cercado de tensão mas o que nos apresentou foi um jogo repleto de alternâncias e ideias bem executadas de futebol. O Mirassol veio na sua clássica variação tática: 4-4-2 sem a bola e no 2-3-5 com a bola utilizando os laterais como pontas e também podemos notar um 4-3-3. O Cascavel veio no clássico 4-2-3-1 em ambas as fases. 

O primeiro tempo foi repleto de criação de jogadas, marcações em blocos médios e a realização do perde pressiona principalmente por parte do Mirassol. O time da casa criava pelos lados, pelo meio, passe em profundidade, curtos e no facão. Mesmo com tudo isso e com uma marcação intensa mas com algumas falhas do Cascavel, o Mirassol faz 1x0 aos 36 minutos numa triangulação de passes que deixou o lateral livre para finalizar. 

No segundo tempo, mesmo com ambos os times mantendo as formações, os gols apareceram: 2x0 foi num gol de escanteio; o 3x0 foi numa interceptação de passe no campo ofensivo e a ligação para o atacante fazer o gol; o 4x0 foi numa jogada de transição rápida em que pega a ultima linha do Cascavel toda desalinhada para a passagem do lateral e cruzamento na área. Após o 4x0 e sofrendo gols das mais variadas formas, o Cascavel passa a jogar no 4-4-2 sem a bola para tentar evitar uma derrota maior. Acabou conseguindo diminuir a intensidade do Mirassol e chega a descontar aos 29 minutos num gol de cabeça numa bola parada. E por falar em bola parada, foi de onde saiu o quinto gol de Mirassol, numa falta e gol de cabeça. Para finalizar, o 5x2 veio aos 47 minutos numa finalização de dentro da área. 

Importante é ter seu modelo de jogo fixo e também adaptado a forma como seu adversário joga.  

05/11/2020

Semifinal Paulista A3 2020: Comercial x EC São Bernardo

Qualquer mata mata que envolva um acesso é repleto de ideias, conceitos e estratégias de jogo pré definidas. O principal ponto em tais jogos é o quanto os jogadores, enquanto coletivo, conseguem o controle das ações e as melhores tomadas de decisões. Num jogo como Comercial x EC São Bernardo, que foram os melhores times depois da retomada do futebol, isso ficou evidente e claro as emoções e frustrações tomam uma intensidade absurda. 

O Comercial veio no seu 4-3-3 com a bola, as vezes no 3-4-3 quando fazia a saída de 3 e no 4-2-3-1 sem a bola. Já o EC São Bernardo, veio diferente de quando jogou as quartas contra o Batatais: uma linha de 3 zagueiros (sendo um deles, o central, apenas para rebater bolas) num 3-5-2 com a bola (com o camisa 10 ficando a frente de uma linha de 4 no meio) e no 3-4-3 bem compacto sem a bola. 

A estratégia do São Bernardo era clara, abdicar da bola e espetar um contra ataque rápido, fazendo-se valer de uma marcação média-alta (mais para média). Já o Comercial, com posse de bola, tentaria ter o controle de jogo utilizando-se de um perde pressiona e uma marcação alta. No primeiro tempo, todas essas estratégias eram bem claras mas sem muito ímpetos para não correr riscos. Porém, aos 12 minutos de jogo, o time da casa faz o 1x0 numa jogada pela lateral e cruzamento e a antecipação do atacante encima do zagueiro. O jogo é para ser mais intenso após o gol, mas não foi isso o observado. A falta de criação de ambos com as fortes marcações eram predominantes. Até que aos 26 minutos, numa jogada vertical, o goleiro do Comercial sai errado e comete pênalti: 1x1. Se o jogo ja era mais defensivo com 1x0, o 1x1 manteve o mesmo padrão até o fim do primeiro tempo. 

No segundo tempo, ambos os times voltaram com as mesmas plataformas de jogo e com as mesmas estratégias. A única mudança de comportamento foi uma maior agressividade do São Bernardo na saída de bola do Comercial e no perde-pressiona já no campo ofensivo. E deu certo. Deu muito certo. o 2x1 para os visitantes veio aos 2 minutos num escanteio. Quem marcou foi o zagueiro escalado para ser o centro da linha de 3. Aos 5 minutos de jogo, numa pressão e ocupação do campo ofensivo, uma finalização de fora da área sacramentou o 3x1 e o que foi o jogo. Após isso, nada mudou. O Comercial não chegou a mudar sua plataforma para tentar se adaptar a linha de 3 zagueiros. Quase nenhuma chance criada e nenhum susto ao São Bernardo que manteve sua intensidade na marcação até o apito final. 

Armar e escalar o time conforme o adversário é raríssimo na terceira divisão paulista. 

Superliga Masculina de vôlei 2020/2021: Vôlei Ribeirão x Minas Tênis Clube

Qualquer começo de temporada é bem desafiador nos aspectos físicos, técnicos, comportamentais e psicológicos para todos os times. Porém, aqueles que possuem investimentos menores e expectativas pequenas sofrem mais. 

A pandemia afeta mais o lado mais fraco dessa balança e cabe aos treinamentos e aos jogos para tentar equilibrar essa desigualdade. 

O Vôlei Ribeirão vem para sua terceira temporada da divisão principal da Superliga e suas pretensões são sempre a última vaga dos playoffs e o não rebaixamento. Sua estréia foi contra um time de tradição forte no vôlei e nos esportes em geral, o Minas Tênis Clube com jogadores que inclusive possuem medalhas olímpicas. 

O jogo teve duração de 1 hora e 15 minutos e foi definido por 3x0 do Minas. As parciais foram 16x25; 21x25; 15x25. O primeiro set já tinha nos mostrado como seria a tônica do jogo. O 16 a 25 evidenciou a quantidade de erros cedidos pelos dois times, principalmente erros de saque. Foram 9 erros do Minas e 11 do Vôlei Ribeirão. 7 pontos de ataque do Minas contra 5 pontos de ataque do Ribeirão e o que fez a diferença foram os aces do Minas que somaram 6 enquanto o Vôlei Ribeirão não teve nenhum. 

O segundo set se mostrou mais equilibrado nos fundamentos. Mesmo assim, ainda muitos erros cedidos pelo time da casa. Foram 8, assim como o Minas também teve. O que fez a diferença no 21 a 25 foi os números de pontos de ataque 10 a 14 pontos para o Minas. 

Já o terceiro set (15x25) concretizou a superioridade do Minas batendo o Vôlei Ribeirão em todos os fundamentos: em aces (0x2), em ataques (8x10), em bloqueios (1x3) e nos erros cedidos (6x10). 

Os erros de saque foram determinantes para a vitória do time mineiro na abertura da Superliga Masculina.  

27/10/2020

Paulista A3 - Quartas de final: Comercial x Linense

Todo e qualquer mata mata é cercado de precauções defensivas e de muita cautela com a bola. Mesmo jogando pelo empate por causa da vitória no primeiro jogo por 1x0, o Comercial começou esperando mais o Linense do que tentando algum ataque. Claro que isso era uma estratégia pois o Linense viria com uma intensidade no começo de jogo afim de tirar a vantagem dos mandantes. 

O Comercial veio no seu 4-3-3 sem a bola, flutuando muito a linha de 3 do meio e no 3-4-3 com a bola fazendo a saída de 3 e espetando seus pontas na amplitude. O Linense veio no tradicional 4-2-3-1 sem e com a bola. 

No primeiro tempo, como já havia escrito, a iniciativa era mais do Linense que a do Comercial até pela necessidade de se fazer um gol. O Linense aproveitava a linha alta dos mandantes e sua lenta reposição para tentar ser o mais vertical e rápido possível no contra ataque. As vezes, tenta passes por cima da última linha sem muitos efeitos. O Comercial não tinha pressa e rodava a bola até procurar espaços para jogar. Quem abre o placar é o Linense de pênalti aos 12 minutos do primeiro tempo, colocando emoção no jogo. Com o resultado levando o jogo para os pênaltis, o  Linense recua e tenta segurar o resultado. Porém, fornece mais espaços para o Comercial que cria finalizações e gerando escanteios. E num desses escanteios, sai o gol de empate aos 30 minutos. 

No segundo tempo, a qualidade do Comercial se sobressaiu e o fato de se manter com a posse de bola fizeram o time de Ribeirão dominar o jogo. Assim, o segundo gol do Comercial veio aos 9 minutos de outra bola parada. Após o 2x1 e sabendo que o Linense deveria fazer dois gols para levar aos pênaltis, o Comercial muda sua plataforma defensiva para o 4-4-2 e espera o Linense atacar, porém, sem muito perigos. Com o jogo controlado, o Comercial fez 3x1 num gol contra aos 19 minutos e assim se confirmou na semifinal do Paulista A3. 


26/10/2020

Análise Paulista Quarta Divisão: Francana x XV de Jaú

 Há jogos e jogos dentro do campeonato paulista da quarta divisão. Jogos que superam a expectativa pela apresentação de ideias e outros jogos que representam muito bem o que muitos esperam da quarta divisão: um jogo bem conservador. Francana vs XV de Jaú é um dos grandes clássicos que se vive no interior do Estado. Dois times que jogam com a cor verde e dois times que apresentam ideias tradicionais de futebol.

A Francana jogou no seu tradicional 4-2-3-1 com e sem  a bola utilizando de bolas longas como saída de bola e sua arma favorita é a bola parada. O XV de Jaú também veio no 4-2-3-1 com e sem a bola se utilizando da não posse de bola e tentando ser mais vertical que a Francana. 

No primeiro tempo, ambas as equipes se mostraram abaixo do que se esperava na criação de jogadas. Nenhuma jogada trabalhada dava certo e o que mais acontecia era a tentativa de desarmes no campo defensivo e a ligação para o contra ataque além de muitas bolas longas. O primeiro gol, porém, vem aos 4 minutos de jogo. O XV de Jaú abre o placar exatamente no cenário relatado: uma bola recuperada no campo de defesa, verticalidade e gol de contra ataque. A Francana passa tentar ter a bola, embora inofensiva mas chega ao gol de empate aos 27 minutos a partir de um rebote numa bola parada. Apesar de dois gols, o jogo era o mesmo: posse de bola inofensivas, chances de finalizações era por bola parada ou cruzamentos e os times preocupados mais com a defesa. Aos 41 minutos, o XV de Jaú chega ao 2x1 num gol de escanteio. 

No segundo tempo, ambos vieram no seu 4-2-3-1 e sem mudanças no comportamento do jogo ou em qualquer ideia. Tanto que aos 9 minutos do segundo tempo, a Francana empata em 2x2 em outro gol de escanteio. Após o embate, os embates físicos eram mais presentes. Mesmo com as alterações e a expulsão do lateral do XV na metade do segundo tempo, não fez o jogo mudar nem de perspectiva. A única mudança foi o posicionamento da defesa do XV do 4-2-3-1 para um 4-3-2. Nem com superioridade numérica fez a Francana ir ao ataque de maneira que criasse finalizações perigosa. 

Resultado final: 2x2.  

22/10/2020

Paulista Quarta Divisão: São Carlense x Francana

 A pessoa que comentar que não há conceitos e ideias de jogo em divisões inferiores do futebol no interior do Brasil, provavelmente ela nunca viu ou analisou devidamente tais campeonatos. Já escrevi aqui e repito, não vou discutir o nível e a qualidade do futebol. Irei apenas apresentar as ideias de jogo conforme minha análise. 

Grêmio São Carlense e Francana fizeram um jogo de altíssimo nível com duas ideias opostas de futebol pela segunda rodada da quarta divisão paulista. São Carlense vinha de uma vitória fora de casa e a Francana vinha de uma vitória dentro de casa. Então, o São Carlense veio no seu habitual 4-4-2 sem a bola e 4-2-3-1 com a bola (repetindo a variação tática do primeiro jogo). A Francana veio no clássico e muito desgastado 4-2-3-1 com e sem a bola. Nenhuma crítica em usar o 4-2-3-1 em ambas as fases, a questão aqui é outra: times que fazem a variação tática e treinam outras formas de jogo, vão longe em campeonatos de divisões inferiores. 

Novamente, com ideias opostas de jogo, o São Carlense amassa a Francana no primeiro tempo. Tanto que o melhor jogador era o goleiro do time visitante. o São Carlense empurra a Francana para trás, cria repertórios de finalizações (de fora da área,de cabeça, a queima roupa e etc) e bloqueia todas as ações reativas da Francana que veio num nítido futebol reativo (abdicar da bola e usar a verticalidade para os contra ataques pelos lados). Embora o 0x0 no primeiro tempo, a dominância do time mandante me fez pensar se valeria a pena ter essa proposta de jogo de abdicar da bola e lutar por um gol. 

No segundo tempo, ambas as equipes não mudaram suas formas de jogo. O que mudou foi a intensidade na marcação da Francana e a troca dos jogadores de contra ataques. Deu certo. O jogo fica equilibrado embora a posse de bola seja maior para o São Carlense. Quem abriu o placar foi o time mandante com uma jogada bem trabalhada deixando o atacante em frente ao gol para finalizar aos 72 minutos de jogo. Mesmo assim, o jogo não muda. A Francana passa a jogar a bola na area como se fosse o único recurso. Porém, eu estava enganado. O outro recurso era a bola parada e assim que a Francana empatou aos 83 e virou aos 91 minutos de jogo. O resultado de 2x1, inesperado pelo que foi o jogo, revela que mesmo usando um esquema habitual de jogo e não tanto ousado por ser um futebol reativo, consegue-se os resultados esperados. 

A dúvida é qual é o prazo de validade desse tipo de jogo?

20/10/2020

Análise da Primeira Rodada do Campeonato Paulista Feminino 2020

Não me canso de dizer o quanto aprecio o futebol feminino pelos comportamentos e as aplicações táticas visíveis nas partidas. De fato, o desenvolvimento técnico das atletas está em progresso e para isso, criações de campeonatos femininos para a base e para o profissional são necessários para o progreso. Nesse final de semana, estive presente na abertura e no encerramento da primeira rodada do Paulista Feminino de 2020. 

A primeira partida foi entre Realidade Jovem x Taboão da Serra. Dois times praticamente do mesmo nível. Ambos vieram no 4-3-3 com e sem a bola, tendo o Realidade Jovem com mais posse de bola. O jogo era igual e com muita atenção as estratégias táticas. Poucas finalizações eram criadas e as jogadas pelas laterais era uma constante. Após o zero a zero no primeiro tempo, o time do Taboão da Serra volta com uma atitude diferente apesar de manter sua plataforma de jogo: a de ser intensas e verticais na transição ofensiva. Isso acarretou em mais espaços para o Realidade Jovem que abre o placar aos cinco minutos do segundo tempo com uma finalização cruzada de fora da área. Sem mudar nenhuma plataforma e estratégias de jogo, ambos os times mais intensos (mesmo com o calor) faz o jogo ser mais movimentado e o empate sai aos vinte minutos de pênalti. Com um empate, o cansaço vem mas mesmo assim houve tempo para a vitória das mandantes aos 50 minutos de jogo num cruzamento. 

Na partida que finalizou a rodada foi entre Ferroviária x Palmeiras. Ambos os times jogavam no 4-4-2 sem a bola. A Ferroviária fazia uma saída de 3 com a bola e se comportava no 3-4-3 com muita mobilidade de sua linha de meias. Já o Palmeiras era no 4-2-3-1 clássico. Jogo era intenso desde o começo com muita disputa pela bola logo no início do jogo. A Ferroviária com mais posse de bola, realizava a pressão na bola com maior eficiência do que o Palmeiras. O 1x0 da Ferroviária veio aos 29 minutos do primeiro tempo, numa bela finalização de fora da área no ângulo. Mesmo com o 1x0, a Ferroviária não recua mas toma o gol de empate aos 41 minutos num gol de bola parada e de cabeça. Na volta para o segundo tempo, o jogo se manteve do mesmo nível  e sem mudanças nas plataformas de jogo ou em quaisquer comportamentos táticos. Aos nove minutos de jogo, a Ferroviária faz o 2x1 num gol de cabeça feito a partir de um cruzamento. Após isso, a Ferroviária recua até por conta da tentativa do Palmeiras em tentar ficar com a bola. Porém, sem nenhuma chance boa criada, o jogo termina em 2x1 para a Ferroviaria. 

07/10/2020

Análise Paulista A3; Batatais x Velo Clube e Olímpia x Comercial

Infelizmente, as análises dos dois jogos da rodada dos quais cobri serão curtas por conta do baixo nível de desempenho de ambos os jogos por conta do calor extremo. Há horários de partidas que favoreciam uma maior ocupação dos estádios. Porém, com a pandemia e sem torcida não há justificativas para manter jogos em horários diurnos. Enfim, vamos aos jogos.


Batatais x Velo Clube

 A partida valia muito para a disputa do G8 e por isso a cautela com as ações do jogo. Ambos os times vieram no 4-2-3-1 ambas nas fases ofensivas e defensivas. O calor das três da tarde era tão forte que jogadas mais velozes e mais intensas eram totalmente escassas. As defesas não foram tão exigidas no primeiro tempo, tanto que o 0x1 do Velo  Clube veio de bola parada as 47 minutos do primeiro tempo. No segundo tempo, as mesmas plataformas se mantiveram. O Velo Clube abdicando da bola por conta do resultado e da classificação para o próxima fase. Batatais com posse de bola mas muito inoperante nas finalizações. Mesmo tirando um zagueiro e colocando um atacante (recuando um volante para a zaga) mas mantendo o 4-2-3-1. No final, aos 93, Batatais consegue o empate em jogada vertical pela esquerda e finalização cruzada. 

O Empate manteve ambos no G8 e bem perto da classificação. 


Olímpia x Comercial

Outro jogo com muito calor mesmo sendo as cinco horas da tarde. Mesmo com o desempenho afetado, Olímpia e Comercial fizeram um ótimo jogo de ideias. O Olímpia veio no básico 4-2-3-1 sem e com a bola e o Comercial no seu 4-3-3 ou 3-4-3 com a bola (fazendo saída de três) e num 4-2-3-1 sem a bola tentando espelhar a fase ofensiva do Olímpia para fazer uma marcação por encaixe. Ambos os times realizavam o perde pressiona e num claro confronto de ideias, houve muito embate físico e marcações fortíssimas. O Comercial era mais perigoso nas fases ofensivas e chega ao 0x1 no final do primeiro tempo após uma falha do zagueiro e do goleiro. No segundo tempo, mais tranquilo com o resultado, o Comercial procura mais espaços para jogar e o melhor de tudo, não abdica da bola para manter o resultado. Ambos mantiveram as suas plataformas e suas formas de jogar. O Comercial faz 2x0 numa jogada ensaiada de bola parada aos 79 minutos e faz o 3x0, aos 90, num passe em profundidade. 

Na volta da pandemia, o Comercial surpreende com um futebol muito coeso, forte e competitivo. 

02/10/2020

Campeonato Brasileiro Feminino: Ferroviária x Kinderman

Há momentos em certa altura de um campeonato em que o resultado se faz mais importante do que o desempenho. Falo isso porque está enraizado em nossa cultura do futebol e Ferroviária x Kinderman nos provou que a luta pelo G8 é significativa para a continuidade de tudo o que ambos os times poderão passar. 

A Ferroviária mudou sua plataforma de inicio de jogo. Ela começa agora num 4-2-3-1 com e sem a bola. O Kinderman veio também num 4-2-3-1 sem a bola mas num 4-3-3 triângulo com a bola.

No primeiro tempo, o Kinderman foi melhor. Pressão na saída de bola, desarmes no campo ofensivo, criações, finalizações de dentro e fora da área, jogadas de infiltrações (a maioria das vezes passes pelo alto) nas costas da última linha da Ferroviária. O time da casa mal conseguiu neutralizar todas as ações das visitantes. Porém, após a parada técnica a Ferroviária vem mais intensa na marcação e mais física no combate e passa a utilizar jogadas ofensivas nas amplitudes que as pontas ofereciam ao ataque. Mesmo assim, o primeiro tempo fica em 0x0.

No segundo tempo, ambos os times mantém suas plataformas e suas mesmas estratégias. No entanto, a Ferroviária mais veloz e vertical faz 1x0 logo no primeiro minuto de jogo depois de um cruzamento na segunda trave. Após esse fato, a Ferroviária muda sua plataforma defensiva para o 4-4-2 mantendo o 4-2-3-1 no ataque. Bloqueia bem as ações ofensivas do Kinderman seja pelos lados, seja pelo meio. Não as deixavam finalizar ou criar chances mesmo abdicando da posse de bola. O 2x0 aos 86 minutos de bola parada sacramentou a vitória que foi mais importante para um resultado do que desempenho.

Saber usar o resultado em detrimento do desempenho é uma qualidade. Usar apenas o resultado como forma de trabalho é covardia.

01/10/2020

Campeonato Brasileiro Série D: Ferroviária x Cascavel

Honestamente, há sim uma mudança em curso do pensamento sobre o que o futebol deve ser pensado, treinado, aplicado e jogado no Brasil. Essa mudança ainda é ligeira. Poderia ser melhor e mais evolutiva mas não depreciaremos o que há de novo e as novas formas de se pensar o futebol, digo dentro do campo. Fora dele, continua a mesma coisa. Pessoas inaptas ainda comandam um dos nossos maiores bens públicos. 

O jogo de hoje foi pela quarta divisão do campeonato brasileiro. Um jogo bem tático porém com muitos erros técnicos. A Ferroviária (time da casa) veio com grandes variações nas suas plataformas de jogo: Com a bola um 2-3-4-1 e 2-3-5 (como faz Guardiola e Joaquim Löw) e sem a bola um 4-4-2 quando o Cascavel propõe o jogo ou 4-3-3 quando o Cascavel faz a saída de bola sem chutão. Já o Cascavel, veio para se defender e atuou num 4-2-4 com a bola jogando apenas reativamente e 4-4-2 e 4-5-1 sem a bola.

Primeiro tempo foi agitado, com muitas finalizações de ambos. A Ferroviária com muita posse de bola e apertando o Cascavel para sua defesa com ultrapassagens, construções pelo meio, amplitude dos laterais que no esquema do 2-3-5 viram pontas e na tentativa de furar as linhas. O Cascavel, apenas reativo, se compactava na defesa e ao ter a bola, buscava no seu número 10 a inversão para o número 7 ou 9 puxarem na velocidade os contra ataques. Mesmo com tudo isso, apenas um 0x0 no primeiro tempo.

No segundo tempo, as estratégias não mudam. Pelo contrário, elas se intensificam quando o Cascavel abdica totalmente de atacar e tenta segurar o empate e a Ferroviária com mais posse de bola do que nunca. Manter as estratégias privilegiou o time visitante, embora a Ferroviária tenha apenas se defendido no 4-3-3 para pressionar a saída de bola. Nada feito. Nem mesmos as amplitudes, circular a bola no meio, posicionar meias entre as linhas de defesa e etc. Com 20 escanteios na conta, apenas o 0x0 foi visto. 

Foi uma pena. Difícil ver um jogo de quarta divisão em que os times possuem tantas variações táticas e o placar se manter o mesmo quando começou. Isso se deu porque a mudança que ainda não nos ocorreu dentro do futebol é o de não se contentar com o empate fora de casa. 

29/09/2020

Campeonato Brasileiro Feminino: Ferroviária x Iranduba

A intensa maratona de jogos e o calor que vem fazendo contribuem para o cansaço das jogadoras e por isso o rodízio é mais do que necessário. Chega a ser parte de um planejamento que nossa cultura do futebol não aceita ou ainda não entende. 

Ferroviária com algumas alterações veio no seu habitual 4-4-2 sem a bola e 4-2-4 com a bola. Porém, dessa vez a alternância para o 4-2-3-1 sem a bola foi visto com o objetivo de espelhar o jogo do Iranduba com o intuito de fazer a marcação por encaixes. O Iranduba veio no 4-1-4-1 sem a bola e 4-2-3-1 com a bola.

No primeiro tempo, o jogo se revelou muito travado, bem fechado com ambos os times bem compactados. Não deixaram os ataques fluirem mesmo com as ações ofensivas serem frequentes. Jogadas de lado aproveitando amplitudes de laterais e pontas são predominantes. Gol do Iranduba sai aos 41 minutos numa infiltracao por trás da última linha de defesa da Ferroviária (algo que com linhas altas, isso pode acontecer)

No segundo tempo, mesmo com algumas mudanças, o jogo não mudou do seu formato do primeiro tempo a não ser o cansaço evidente das jogadoras. Não houve alterações nas plataformas de jogo e as marcações altas eram cada vez mais ausentes. A Ferroviária empatou aos 54 minutos numa bola alta e no erro da saída de bola da goleira.

O rodízio é necessário e temos que entender que isso é presente.

23/09/2020

Campeonato Brasileiro Série D 2020: Mirassol x Bangu

O Campeonato Brasileiro da Série D possui um nível técnico e competitivo melhor do que as divisões inferiores de campeonatos estaduais. Isso se deve pela quantidade de times diferentes, com investimentos e estruturas totalmente diferentes porém, com o mesmo objetivo. Na primeira rodada, analiso para vocês um belo de um jogo entre Mirassol x Bangu. Mirassol me surpreende ao trazer Eduardo Baptista como técnico. 

E como é um técnico não muito usual para trabalhar na Série D, Eduardo Baptista montou o Mirassol ala Guardiola: com a bola era 2-3-5 com saída de 3 e os laterais avançando muito na amplitude criando a linha de 5 no ataque. Sem a bola era no 4-1-4-1 pra espelhar o jogo apoiado do Bangu. E um 4-2-3-1 quando a saída de bola do Bangu era a bola longa. Conceitos de futebol mas acima de tudo, o conhecimento de como jogaria o adversário. O Bangu veio no 4-2-3-1 com e sem a bola numa forma bem reativa.

No primeiro tempo, ambos os times jogando numa compactação difícil de se ver em divisões inferiores. Mirassol muito mais com a bola, pressionando o Bangu, sempre tentando a superioridade numérica começando com a saída de 3. Bangu pressionado, fazia uma marcação média e bem compactado. Fez gol aos 43 minutos numa bola enfiada atrás da última linha (algo bem corriqueiro no futebol brasileiro quando a recomposição da última linha é lenta). As estratégias eram bem executadas e sabíamos que no segundo tempo certos comportamentos iriam mudar.

No segundo tempo, a única mudança foi na fase defensiva do Bangu: saiu do 4-2-3-1 e passou a jogar no 4-4-2 e abdicou de ter a bola (na verdade, já não tinha ela). O Mirassol manteve suas formações porém mais com a bola, fez o jogo ser um ataque versus defesa. Isso se perdurou até os 5 minutos de acréscimo com uma ótima atuação do goleiro do Bangu. Mesmo assim, não evitou o gol de empate do Mirassol por um dos muitos escanteios gerados por muitas finalizações.

Outro jogo do qual é possível ter uma pequena esperança de mudança no futebol brasileiro. A questão que faz com que percamos essa esperança é a imprevisibilidade do futebol e o resultadísmo.

Análise Paulista A3: Noroeste x Comercial

A volta da disputa da terceira divisão já reservava um confronto extremamente competitivo entre Noroeste (líder) versus Comercial. Nos foi fornecido na tarde de sábado (dia 19/09) um belíssimo jogo recheado com conceitos de futebol, comportamentos ofensivos e uma intensidade que é pouco visto em campeonatos desse nível. Noroeste x Comercial fez valer a espera pela volta e eu conto o por que.

O Noroeste veio num 4-3-3 sem a bola numa marcação alta e por encaixes na pressão no portador e com a bola, ora um 4-4-2 trapézio ou 4-2-3-1 (isso é a minha leitura do jogo). Já o Comercial veio no 4-4-2 variando para um 4-2-3-1 sem a bola e um 4-3-3 com a bola usando a saída de 3 é as vezes variando para um 3-4-3.

O primeiro tempo começa bem intenso. Marcações médias e altas por ambos os times, profundidades, jogos mais verticais do que de manutenção da bola e o uso de amplitudes de jogo para quem sabe criar a superioridade numérica. O primeiro gol sai aos 28 minutos do Noroeste por meio de um escanteio embora havia volume de jogo e de criações (erro na marcação por zona do Comercial). Após o gol, jogo continua da mesma forma. Marcação pressão alta do Noroeste, saída lavolpiana do Comercial buscando sempre a superioridade numérica e passes mais velozes no campo de ataque e sempre a busca do gol de ambos os times.

No segundo tempo, era pra ser um jogo diferente mesmo com as substituições (Noroeste reativo e Comercial pressionando). Porém, o jogo reservou algo bem melhor. A mesma intensidade de jogo, as mesmas ideias e busca pelo gol como se tivesse zero a zero. Sempre a pressão no portador da bola quando ela estava no meio campo para frente. Na defesa, apenas o Noroeste fazia pressão alta. Gol do Comercial sai aos 23 minutos com um gol contra num lance infeliz e imprevisível. Comercial virou o jogo aos 25 numa disputa pela segunda bola, jogada pela esquerda e cruzamento rasteiro para a finalização dentro da pequena área. Noroeste empata aos 30 em outro escanteio em um lance cheio de bate e rebate. O gol da vitória do Comercial vem aos 36 numa jogada que o atacante do Comercial sai da área pra dar opção de passe ao ataque, encontra o espaço aberto e finaliza de fora da área. Após o gol, até o fim do jogo, a intensidade se mantém e o Comercial não abdica da bola como costumeiramente times brasileiros fazem (principalmente quando jogam fora de casa).

O que vimos foi uma aula de futebol. Mesmo sem jogar a seis meses, os dois times mostraram que vieram melhor. Bom para o futebol brasileiro.

08/09/2020

Brasileiro Feminino A1: Ferroviária x Grêmio

A semana para o futebol feminino começou com uma proposta de ruptura com o passado e o presente de proibição, falta de incentivos e preconceitos com sua prática e profissionalismo. As notícias vindas da CBF parece fazer crer que há um caminho que possa ser seguido. Esperaremos para ver o desenrolar de toda essa situação. Enquanto isso, as partidas continuam em meio a pandemia e mortes. Além do mais, o protocolo é feito para aqueles que o querem cumprir e não feito para todos cumprirem. Uma pena.

A partida entre Ferroviária e Grêmio marcava um encontro de seis pontos. Quem ganhasse, escaparia do outro time. Por isso, foi recheado de intensidade e uma certa tensão. O time de Araraquara (rapaz, que calor) veio da mesma forma como na partida anterior relata aqui: Um 4-4-2 sem a bola e 4-3-3 triângulo com a bola usando a atacante numa função clara de pivô (a única alteração para esse jogo). O Grêmio veio num 4-1-4-1 sem a bola e 4-2-3-1 com a bola numa clara intenção de jogar na defensiva.

No primeiro tempo, a Ferroviária ficou mais com a bola, sempre tentando realizar um perde pressiona já no campo ofensivo ou fazer uma marcação média alta. Com a bola, suas triangulações, o usar uma atacante como pivô e profundidade não dão certo e os erros de passes são uma constante. Já o Grêmio, mesmo esperando a Ferroviária, conseguiu ser mais agressivo que o time da casa. Duas finalizações no gol, obrigado a goleira Luciana a fazer grande defesa. O gol do 1x0 do Grêmio sai aos 45 do primeiro tempo após a primeira jogada de infiltração do jogo dar certo a ponto de deixar a número 11 do Grêmio cara a cara com a goleira, deixar ela no chão e finalizar para o gol.

No segundo tempo: Não houve qualquer mudança em ambas as plataformas dos times. A mudança que teve foi comportamental. A Ferroviária mais intensa, mais agressiva em todo o segundo tempo. Amassou o Grêmio que fazia uma partida defensiva impecável mesmo sufocado. Pouquíssimos avanços do Grêmio ao ataque evidencia a clara proposta em se defender e segurar o resultado. As profundidades, os passes, a criação da Ferroviária melhora e muito. Ao não usar a atacante como uma referência de pivô e fazer com que ela circule, melhora o time no trato com a bola. Infelizmente esse controle não resultou em finalizações. Paradas para atendimento médico esfriou o jogo e deu a vitória ao tricolor gaúcho.

O comportamento tático e a aplicação das jogadoras em seguir as plataformas de jogo é algo brilhante.

02/09/2020

Brasileiro Serie B: Botafogo SP x Cuiabá

O campeonato brasileiro da série B possui os jogos dos quais eu analiso que tem ou era para ter a melhor qualidade técnica, física e tática. Posso dizer que nesse duelo, essa afirmação foi comprovada mas o contrário também se fez presente. A cultura do futebol brasileiro de abdicar de ter a bola e de não atacar quando o resultado é favorável, provoca no jogo e nas ideias algo ruim de se ver e uma perda de esperança em qualquer evolução futura. 

Pois bem, o Botafogo usou as seguintes plataformas no começo do jogo: Um 4-2-3-1 com a bola e um 4-3-3 em linha sem a bola. Já o Cuiabá utilizou apenas o 4-2-3-1 fazendo saída de três com a bola (com dois zagueiros e um volate). 


No primeiro tempo, ambos os times com a bola jogam e apresentam as melhores criações e ações apenas na verticalidade e nas bolas longas. Poucas coisas são criadas com a bola trabalhada embora o Cuiabá faça a saída de 3 lavolpiana com a bola. O gol do time visitante sai aos 29 minutos de escanteio, pois era a forma mais perigosa de atacar desde então. Após o gol, Botafogo tenta aumentar a velocidade de suas ações ofensivas porém,  apenas levando perigo em bolas paradas e cruzamentos. Nada mais acontece no primeiro tempo a não ser faltas de um jogo que se tornou pegado. 

No segundo tempo, duas alterações para o Botafogo mudam a forma do time jogar (jogando ainda pelos lados porém privilegiando o confronto um contra um) mas manteve seu 4-2-3-1 com a bola já sendo mais agudo que o primeiro tempo. Também muda sua plataforma de defesa para o 4-1-4-1. O Cuiabá se mantém no mesmo esquema, recua e joga no contra ataque. Botafogo mais dominante e perigoso, controla o jogo e empurra o Cuiabá pra sua defesa. Cria duas grandes chances em 15 minutos. Após a pressão do Botafogo, o Cuiabá se fecha e faz um 4-4-2 defensivo abdicando totalmente de ter a bola. Botafogo tenta a criação apenas pelos lados mas leva mais perigo quando aciona seu ponta para o confronto 1x1. O gol de empate sai aos 40 minutos numa jogada que refletiu exatamente a proposta do Botafogo para o segundo tempo: o confronto um contra um quebra uma das linhas do Cuiabá e é feito o cruzamento para a segunda trave e assim, a finalização.

Abdicar de ter a bola quando se é visitante no Brasil não é só uma regra e sim, uma cultura que precisa ser revista. O Cuiabá, que era líder, abdicou do seu jogo e tomou o empate quando poderia ter a bola e criar mais chances. 

São escolhas e elas têm consequências.

30/08/2020

Brasileiro Feminino A1: Ferroviária x Internacional

O futebol feminino me encanta. Sua aplicação tática e o comportamento dos times para com as estratégias até o apito final é algo de encher os olhos de orgulho. A retomada depois de cinco meses e meio paradas se reflete ainda no aspecto físico. É aparente o cansaço físico no segundo tempo. Com os olhos de Pia Sundhage e sua comissão técnica, eu analiso como foi a partida entre Ferroviária x Internacional pela sexta rodada do Brasileiro feminino A1. 

A Ferroviária usou a plataforma do 4-4-2 sem a bola e no 4-3-3 no formato de triângulo com a bola. O Inter de Porto Alegre usou o 4-1-4-1 sem a bola e o que me pareceu também um 4-3-3 porém com uma linha de 3 e não um triângulo igual o time da casa. O primeiro tempo foi marcado pela igualdade no jogo (me refiro as atuações): os dois times usando marcações médias e compactações nas suas fases defensivas e de alguma forma certa verticalidade nas ações ofensivas. Destaco certo controle de ações para o Inter pela eficiência na sua verticalidade. As chances da Ferroviária vieram de erros do Inter principalmente em saídas de bola ou erros em gestos técnicos como domínio e passe. No final do primeiro tempo, a Ferroviária toma conta das ações embora o jogo seja muito igual e aberto. Boas jogadas e ótimas trocas de passe de ambos os times principalmente fazendo as jogadoras mais avançadas a atacar os espaços. Ótima partida de ambas as goleiras merece ser destacado pela quantidade de finalizações criadas. 

No segundo tempo, os dois times voltaram com as mesmas formações, sem alterações e com os mesmos controles do jogo. As ações ofensivas não mudam embora o Inter sofre com a quantidade enorme de impedimentos. A Ferroviária faz o 1x0 numa jogada ensaiada de bola parada (escanteio) aos 12 minutos do segundo tempo (uma finalização fantástica da camisa 10). Mesmo após o gol, o jogo permanece igual até a mudança do Inter: sai uma zagueira e entra uma meia (deslocando uma volante para a defesa), a plataforma defensiva muda para o 4-4-2 mas a ofensiva continua no 4-3-3 para dar uma mobilidade maior no meio campo. Já a Ferroviária também faz alterações: saca uma meia e põe uma zagueira e troca duas atacantes de mais velocidade pra abdicar da bola e jogar no contra ataque. O jogo muda e o Inter intensifica e marca na pressão alta até que aos 90 minutos de jogo chega ao empate numa jogada de desarme no campo ofensivo, tabela com toques rápidos no lado do campo, cruzamento por baixo e rebote da goleira da Ferroviária. O que veio depois do 1x1 foi a emoção que o futebol causa: a virada do Inter aos 93 minutos o Inter com um cruzamento, a atacante faz um leve desvio, a bola bate na trave e depois gol contra da goleira da Ferroviária. 

Uma virada em 3 minutos. As alterações do Inter deram certo: sua marcação alta e intensidade fizeram a diferença no final do jogo. 

Futebol é emocionante e brochante ao mesmo tempo.  



27/08/2020

Paulista A2: Monte Azul x Portuguesa Santista

Monte Azul x Portuguesa Santista jogaram pela permanência na zona de classificação para a próxima fase. Diferente de ser um jogo que define rebaixamento, um jogo de classificação, na nossa cultura de futebol, requer uma certa cautela na forma de jogar e um conservadorismo que tira a qualidade do futebol executado. 

Jogando no 4-2-3-1 sem a bola mas num 4-3-3 com ela, o Monte Azul muda a forma como jogou na última rodada. Vieram com três atacantes (os três de ofício centro-avante) recuando dois deles na fase defensiva para compor a linha de 3 do 4-2-3-1. A Portuguesa Santista veio no 4-2-3-1 sem e com a bola com uma proposta de jogo marcando alto e tentando ser reativo. O medo de perder de ambos fez com que o jogo ficasse sem criatividade e com muitas faltas até a parada técnica. Depois dela, o Monte Azul inverte os atacantes de lado e faz o seu meia, que antes caia pela esquerda do ataque, caísse mais pela direita. O resultado deu certo. O Monte Azul passa a dominar as ações no meio, aumenta sua criatividade até que aos 45 minutos o gol acontece num desarme no campo ofensivo e finalização de um dos atacantes improvisados como ponta de fora da área. 

No segundo tempo, ambos os times voltam com as mesmas plataformas e com as mesmas falta de criatividade do começo do primeiro tempo. A única mudança de comportamento foi o jogo ser mais intenso no sentido da emoção e mais brigado. Mesmo com as substituições, nada de muito concreto acontece a não ser a quantidade alta de faltas (32 o jogo todo). Após, a parada técnica do segundo tempo, o Monte Azul abdica de vez de jogar e passa a atuar sem a bola num 5-3-2 congestionando totalmente a frente da grande área. Deu certo, mesmo que no final tenha tido um pênalti desperdiçado para fora pela Portuguesa Santista. 

O 1x0 conservador revelou que teve mais intensidade fora do campo do que dentro.   

26/08/2020

Paulista A2: Penapolense x Red Bull

A penúltima rodada do Paulista A2 reservou um confronto direto contra o rebaixamento. Penapolense x Red Bull era o jogo decisivo para ambos e sob essas condições a única e exclusiva importância era o resultado.

Por isso, venho sempre dizendo aqui, por mais ruim ou inferior a qualidade técnica das partidas, há sim ideias e conceitos de jogo aplicado, plataformas pensadas e adaptadas de acordo com a situação do jogo. Pois bem, os dois times vieram para o começo do jogo numa plataforma do 4-2-3-1 com e sem a bola (o esquema mais utilizado que eu já vi) com o RB muito mais compactado, com as linhas altas e na defensiva (bem raro ver times compactados). A Penapolense já sabia dessa compactação e apostava sempre na verticalidade e nas bolas pelas costas dos laterais do RB para tentar aproveitar o amplo espaço até o gol. Com isso, as principais chances (e não foram poucas) foram da Penapolense, dominando as ações. Com a bola, o RB tinha apenas uma jogada característica: as tentativas de bola enfiada nos pontos futuros. Com essa tônica do primeiro tempo, a defesa do RB trabalhou junto com o goleiro. Porém, quem marcou o 1x0 foi o próprio RB num gol contra e de escanteio.

No segundo tempo, pelo desespero do resultado, a Penapolense muda sua forma de jogar: manteve 4-2-3-1 sem a bola mas optou por jogar no 4-3-3 com dois volantes e um meia formando um triângulo. Como o jogo era de suma importância para ambos, para segurar o resultado o RB também mudou sua plataforma mais drasticamente: 5-4-1 sem a bola e no 3-4-3 com a bola optando pela transição rápida para os contra ataques. A consequência dessa mudança toda foi um segundo tempo ataque contra defesa. O exemplo disso foi os doze escanteios que a Penapolense teve, várias finalizações criadas no gol e fora dele e a esperteza em usar a amplitude do time para tentar furar o ferrolho do RB. O 1x1 veio mas no final do jogo um pênalti para o RB deu a vitória de 2x1. 

O resultado fez os dois times trocarem de posição. A Penapolense foi para a zona de rebaixamento e o RB é o primeiro fora dela. 

E o futebol é algo tão incerto que mesmo controlando todos os aspectos do jogo, a derrota ainda é muito presente. 

22/08/2020

A retomada do Paulista A2: Monte Azul 1x3 Penapolense

Não podemos dizer ainda que estamos no pós pandemia. Ainda estamos nela mesmo a vida entrando forçada á normalidade. O Paulista série A2 voltou depois de cinco meses e uma semana de parada. O jogo em questão foi entre Monte Azul (que antes da parada estava na zona de classificação) contra a Penapolense (que estava na zona de rebaixamento). Se a pandemia foi dura com os times grandes, em relação ao times pequenos ela foi mais cruel. O Monte Azul perdeu cinco jogadores, todos importantes para a manutenção do time na primeira parte da tabela. Já a Penapolense perdeu dezoito jogadores, ou seja, houve uma reformulação quase que total no departamento de futebol do clube. 

Sobre o futebol dentro do campo, é realmente necessário falar que não era de se esperar uma boa qualidade do jogo em conceitos e ideias depois de cinco meses sem atividades. O Monte Azul, mandante, veio numa plataforma de jogo bem comum nas divisões inferiores dos campeonatos estaduais: um 4-2-3-1 com e sem a bola. Por outro lado, venho sempre ressaltando aqui, quando um time do interior vem com duas plataformas de jogo. Assim fez a Penapolense jogando no 4-4-2 sem a bola e no 4-2-3-1 com a bola. 

Qualquer que seja o conceito de futebol treinado e pensado, ele pode ser prejudicado ou facilitado por um gol aos dois minutos. E isso o que aconteceu com a Penapolense ao abrir o placar numa jogada trabalhada no canto esquerdo do seu ataque, atraindo a maioria dos defensores do Monte Azul para esse lado e assim, fazer a virada de jogo para o lateral oposto vir nas costas da defesa e cruzar para a finalização do atacante. Ideias treinadas mas também contando com muita inteligência dos jogadores ao ter essa tomada de decisão. Após o gol, as duas linhas de 4 da Penapolense e sua marcação média e alta inibiram quaisquer construção de jogadas do Monte Azul por boa parte do primeiro tempo. Mesmo assim, as maiores ações e finalizações foram da Penapolense pois era mais aguda, mais vertical e intensa com a bola do que o Monte Azul.

Para o segundo tempo, a Penapolense troca um meia por um atacante e passa a jogar no 4-3-3 com a bola (essa foi minha leitura do jogo) para aproveitar melhor a sua verticalização e manteve o 4-4-2 na fase defensiva com sua marcação mais média do que alta porém, privilegiando o perde pressiona (pouco visto em jogos de divisões inferiores). O Monte Azul, mesmo precisando do reverter o placar, se manteve na mesma plataforma de jogo. O jogo era bem parecido como o que foi no primeiro tempo: Monte Azul tentando acelerar o jogo porém, utilizando apenas de cruzamentos para tentar alguma finalização. A marcação com duas linhas de 4 realmente é muito complicada de furar quando ela é feita de maneira correta. 

Aos 14 minutos, a Penapolense amplia para 2x0. No minuto anterior ao segundo gol, o Monte Azul se torna ousado (e não deve ser tecido nenhuma crítica a isso, muito pelo contrário) e tira o lateral esquerdo para por mais um atacante, improvisando um volante na lateral. O ruim disso, é que na volta ao jogo, a Penapolense marca justamente numa jogada de dois contra um e uma ultrapassagem no lado esquerdo da defesa do Monte Azul após pressionar sempre a segunda bola (rebote) de uma bola longa. Culpar a comissão técnica do Monte Azul é não entender o jogo e usar de resultados para apontar erros e acertos. 

Após o segundo gol, a Penapolense se mantém intensa e veloz na sua verticalidade com a bola e agora abdicando da sua posse, já que estava saindo da zona de rebaixamento, para aproveitar melhor o contra ataque. Mesmo com a posse de bola, o Monte Azul me pareceu sem saber o que fazer com ela, exagerando nos cruzamentos. Foi assim que o time da casa fez o 2x1 num erro da defesa da Penapolense aos 18 minutos de jogo. Apesar, do placar próximo, quem tomava mais as ações ainda era a Penapolense e foi assim até os 50 minutos do segundo tempo, quando numa interceptação na saída de bola do Monte Azul, gerou um contra ataque de dois contra um para fazer o 3x1. 

O resultado tirou a Penapolense da zona de rebaixamento e também tirou o Monte Azul da zona de classificação. 

A qualidade do futebol ainda é pequena mas posso garantir que há ideias sendo pondo em práticas.

25/07/2020

Os 70 anos da Copa de 1950: o reflexo da brasilidade

Há certos momentos, atos, minutos, acontecimentos que mudam abruptamente o percurso de nosso destino e nossa perspectiva de vida. Tais fatos jamais serão esquecidos por nós e serão tidos como pontos de partida para uma mudança que talvez, e eu repito, talvez seria necessária. Podemos citar alguns exemplos da vida cotidiana como um acidente de carro, um problema de saúde inesperado, uma desilusão amorosa ou profissional, a leitura de um livro e etc. No esporte isso é refletido em jogos, torneios e resultados e a Copa de 1950 no Brasil é talvez o maior exemplo de tal acontecimento inesperado que suas consequências são tão infinitas e suas narrativas são tão cercadas de um misticismo que se pode considerar como um vértice do futebol mundial (um percurso que é dobrado no meio para dar início a outro destino).

Eu estava na pós graduação da UNICAMP e fui convidado para ministrar uma aula sobre as relações entre esporte e sociedade. Preparando a aula e sempre tentando construir uma narrativa histórica sobre os fatos políticos brasileiros a partir das participações do Brasil em Copas do Mundo e como essas participações eram utilizadas por seus governos contemporâneos, eu sempre me deparava com uma pergunta interessante: E se o Brasil tivesse vencido aquele jogo e o mundial? Teríamos o mesmo futebol de hoje? Ou pior, será que existiria os times campeões em 58, 62 e 70? E Pelé, teria a mesma trajetória? 

Creio que você deve ter escutado que não existe o "E se" para historiadores. E faz sentido não ter. A história é feita de fatos, relatos e não achismos meramente mirabolantes que nos possam levar ao mundo ideal e utópico. Mas a própria história, muitas vezes, é contada sempre pela ótica positiva, do final feliz, dos vencedores, daqueles que obtiveram o sucesso. E quando a história não tem um final feliz (e acredite que há inúmeras delas) não há um espaço reservado em nossa mesa de bar, na imprensa, no nosso imaginário discutir ou pensar sobre algo que nos faz doer. Afinal de contas, estaria a Copa de 50 superada pelo três títulos mundiais em 12 anos que a seleção brasileira conseguiu. Por isso, nesse ano vimos mais homenagem e mais matérias sobre os 50 anos da Copa de 1970 do que os 70 anos da Copa de 1950. 

De fato, é um tema mais espinhoso de discorrer. A Copa de 50 não foi qualquer Copa. Simples assim. E também já mais foi tida como um mero evento esportivo mundial. Resumindo: era a primeira edição pós Segunda Guerra Mundial; era um momento de promessa e esperança de um crescimento e desenvolvimento do Brasil que até hoje esperamos ter e nunca tivemos (e a obra e construção do Maracanã é um exemplo disso); e de um momento que evidenciou o preciosismo de se achar soberano. Nem dentro de campo foi uma Copa "normal" pelas mudanças no formato de disputa, desistências de seleções europeias por conta da reconstrução pós Segunda Guerra, convites para seleções de última hora, goleadas encantadoras do Brasil (7x1 contra a Suécia e 6x0 contra a Espanha) e o recorde de públicoem um só jogo de uma Copa do Mundo: 173.850 pessoas.

Entretanto, o que mais quero escrever hoje não é uma análise sobre o jogo da final ou as causas da derrota, mas sim, como essa derrota se porta como um reflexo enquanto sociedade brasileira no seu modo mais cru e nu de sua cultura.


- O primeiro aspecto é o pensar demasiadamente grande. Não há erro algum em pensar grande no sentido de uma perspectiva futura desde que seja algo planejado e prevendo riscos. O problema é criar algo enorme e sem perspectiva futura de legado quanto menos prevendo tais riscos. E a Copa de 50 é um exemplo por conta de autoridades e governantes da época supor que, pela organização de um evento mundial no Brasil, pudesse fornecer prosperidade econômica e social. Cabe ressaltar que costumeiramente os Jogos Olímpicos e as Copas do Mundo são utilizadas como molas propulsoras de um progresso econômico já em curso e não usadas como um start para tal. Com isso, a derrota na final nos leva, além de um luto coletivo de tamanho estratosférico, á um encerramento da esperança e da promessa de um projeto de nação e prosperidade econômica jamais vista.

- O segundo aspecto é o racismo. Tal crime impregnado em nossa cultura foi tão presente nessa derrota que as consequências pós 1950 foi tamanha que havia dirigências da Confederação Brasileira de Desportos contrárias a convocações e escalações de negros nas seleções brasileiras. Outro fato importante e não menos grave é de quem a culpa foi designada. E a figura do goleiro Barbosa é tão emblemática para a discussão do racismo ao ponto do próprio cunhar essa frase: "No Brasil, a pena máxima é de 30 anos. Eu paguei a vida inteira por causa de uma derrota". Culpar Barbosa e os outros dois negros que faziam parte do time (o lateral-esquerdo João Ferreira - Bigode - e o zagueiro Juvenal Amarijo) reflete o racismo escancarado em tentar aliar a cor da pele com o fracasso tão recorrente no cotidiano brasileiro, nas nossas instituições, ações e comportamentos.



- O terceiro aspecto o qual é estritamente ligado ao ponto anterior é o de sempre tentar achar um culpado. Não só 1950 que reflete isso, mas todas as outras derrotas em Copas subsequentes sempre foram cercadas de culpados já sentenciados pela opinião pública e pela imprensa esportiva. Isso nos causa uma cegueira eterna e um obscurantismo enorme ao olhar para os erros, diagnosticar problemas e projetar futuros acertos. Em certo modo, pós 1950 houve esse diagnóstico, ajustes, mudanças e acertos grandes que nos levaram a era de ouro. Porém, o estigma da culpabilização foi profundamente enraizado em nossa cultura com o exemplo de Barbosa.

- O quarto aspecto é como uma derrota afeta a coletividade brasileira e nos carrega para um complexo de inferioridade em que sempre "a grama do vizinho é mais verde do que a minha". Sobre isso, Nelson Rodrigues escreve e denomina de complexo de vira-latas. Curiosamente, seu gatilho foi exatamente a derrota em 1950 e o descrédito que a seleção de 1958 levava consigo no embarque para a Suécia. De fato, no fracasso tudo parece perdido e irremediável ao ponto de sempre olharmos com inveja e uma sede de pertencer àqueles que possuem o sucesso mesmo que seja momentâneo. O tal do complexo de vira-latas se faz tão presente que é notória sua presença em questões políticas internacionais e econômicas até hoje.

- O quinto aspecto e último é o de sempre não prestigiar quem venceu. Falo quanto nunca lembrarmos do que fez futebolisticamente as seleções que eliminaram o Brasil. No caso de 1950, o Uruguai, que era duas vezes campeão olímpico, campeão sul-americano e já tinha um título da Copa do Mundo em 1930, fez uma estratégia de segurar a seleção brasileira a um ponto de demonstrar frieza e não abatimento mesmo saindo perdendo por 1x0.  Como diz Obdulio Varella nessa entrevista em 1972 (https://trivela.com.br/as-copas-em-16-de-julho-obdulio-varela-e-o-sentimento-que-o-tomou-apos-o-maracanazo/) o principal pensamento era não deixar a seleção brasileira tomar o ritmo de jogo, esfriar o seu ímpeto demolidor, marcar na pressão e usar os contra ataques. Deu certo e eles merecem os créditos. Jamais podem ser escanteados nessa história pois eles eram a seleção que na época era a ser batida por todas as conquistas que possuíam.

Por fim, a derrota em 50 foi tão trágica que a seleção brasileira só foi jogar novamente dois anos depois com um uniforme diferente (até o dia 16 de julho de 1950, o Brasil usava camisetas brancas e após 1950 passaram a usar a cor amarela). A data da final virou dia pátrio no Uruguai e por alguns anos o Maracanã era tido como um lugar azarado.

As perguntas que fiz no começo do texto são difíceis de responder. Se o Brasil tivesse vencido aquela final, os rumos da seleção brasileira , a trajetória de Pelé e talvez a história política e econômica do país fosse diferente. Não falo isso por apenas um título de Copa do Mundo pudesse mudar a trajetória de um país e etc., mas sim, pela mudança de um sentimento coletivo melhor, mais alegre, mais próspero, mais disposto a acreditar em o que nós somos capazes de fazer enquanto nação. Além do mais, a relação entre os resultados da seleção brasileira em Copas do Mundo com os sentimentos de pertencer á um coletivo nacional é tão profunda que podemos sim acreditar que a campanha em uma Copa do Mundo pode definir o futuro do país em vários aspectos.

Mesmo que seja, em alguns olhares, apenas uma derrota no campo esportivo, a Copa de 1950 e o Maracanazzo é a maior derrota que possuímos (maior do que o 7x1) por puramente mudar aquilo que sabemos sobre futebol, mas por principalmente escancarar e refletir todos os aspectos de uma coletividade frágil que a brasilidade possui. Não há nada mais didático do que essa relação.




18/07/2020

50 anos do tri campeonato do mundo: A história não é estática

Nossa cultura esportiva venera apenas a vitória, o resultado, as coisas positivas de uma forma tão intensa e abruptamente cega que nos faz apenas pensar em valores, crenças, histórias e fatos positivos. Atualmente, no nosso cenário histórico, essa cultura me soa bem negativa. Principalmente quando penso o que será no futuro. Tentando voltar a estudar e escrever, uma das primeiras frases que leio numa obra sobre esportes e seus cenários sociais é " A história do esporte pode ser tudo menos ser estática". E será por esse pensamento em que vou me basear para escrever sobre os 50 anos do melhor título do futebol brasileiro.

A história do esporte jamais é estática (e essa frase nunca me ocorreu no meu período de acadêmico). Ela faz tanto sentido, pois venho falando desde sempre que o esporte é tão neutro ideologicamente que essa sua característica particular o faz ser usado para o lado negativo e positivo da esfera política e econômica. A Copa de 70 para o Brasil é o maior exemplo desses dois lados andando juntos eternamente e precisamos, daqui para frente, fazer existir a caminhada de ambos para sempre. 

A seleção de 70 é considerada o melhor time de futebol da história. E isso é indiscutível por conta dos nomes que a compunha, pelo futebol que apresentou e também pela preparação exercida para aquela ocasião. Novamente, o título, a campanha, os jogadores, a preparação, todo o conjunto e etc são indiscutíveis. As comemorações, o zelo, as lembranças, as reverências, homenagens. Tudo. Todas essas coisas são indiscutíveis e merecem a nossa atenção e palmas. 



Entretanto, o que é também indiscutível é o papel da ditadura militar e de militares na preparação e no dedo da logística da seleção de 70. A intervenção militar com fins políticos (desviar o foco em torturas, prisões, assassinatos, corrupção, autoritarismo e etc.) é o lado não estático dessa história a ponto de fazer com que os atletas brasileiros (que pouco sabiam o que realmente estava acontecendo no país) agradecessem os militares até hoje, incluindo carta enviada de Pelé para Ernesto Geisel, o capitão Carlos Alberto Torres (num documentário) dizendo o que apenas importava para o grupo era o título da Copa e não que acontecia no Brasil e Rivelino afirmando que não fosse os militares, dificilmente o time chegaria tão pronto e formado para ganhar da forma como ganhou aquela Copa.  

Além do mais, é muito difícil afirmar que por conta do intervencionismo militar na seleção, essa história seja considerada manchada. Difícil pensar isso porque realmente se não fosse os propósitos político da ditadura, poderíamos até ganhar mas não da forma como foi. É por isso que a história dessa seleção não é estática e jamais poderá ser. Brasil coroou sua geração de ouro com um brilhantismo em campo e um obscurantismo fora dele. Assim, a música tema "Pra frente Brasil, salve a seleção" deve ter duas conotações históricas. 

Toda história tem seus dois lados e jamais podemos pensar e contar o lado vitorioso do assunto porque a vida não é assim. 

Uma dica importante de audiovisual sobre esse tema é uma série do jornalista Lúcio de Castro:
Memórias de chumbo: o futebol nos tempos de Condor:





Obrigado pela leitura. 

26/03/2020

A Covid-19 e o futebol (paralisado).

Começo o texto justificando que a narrativa se descreverá especificamente sobre a paralisação do futebol pela pandemia da Covid-19 e não esportes em geral por conta de todo o significado e simbolismo sócio-histórico que esse esporte desfruta do cotidiano brasileiro. Peço que não constituam essa opinião como uma exclusão da importância de todos os outros esportes. Muito pelo contrário. Pode ser usada como narrativa para tantos contextos sociais como por exemplo, o críquete no sul da Ásia, a NBA para norte americanos e o Hockey para canadenses.

Se o futebol é o ópio do povo (como ressaltou Millôr Fernandes) o que significa a paralisação desse ópio em tempos de quarentena, pandemia, risco de contágio e mortes? Se Deus criou o mundo e as coisas em 6 dias e parou no sétimo dia para descansar e assistir futebol, o que ele vai fazer em seu tempo livre? Não há nenhuma racionalidade digna de criticar a paralisação do futebol mundial. Esse esporte tem a capacidade de levar a mobilização de massas a um nível comparado a forças religiosas e nesse tempo de combate a Covid-19, o único método eficaz para mitigar os casos de infectados ainda é o isolamento social e a não aglomeração de pessoas.

Entretanto, cabe levantar uma discussão: Sem futebol, o quê e quem preenche o vazio deixado? A pergunta parece ter uma resposta simples, porém bem rasa. Não faltam sugestões para o que fazer para quem pode estar em isolamento social (lembrando que essa opção é um privilégio) como, ler, assistir filmes e séries, meditar, estudar, usar das redes sociais como interação social e contar as latas da sua coleção (é o meu caso). Porém, a questão é mais profunda principalmente quando me refiro à um preenchimento coletivo, um sentimento de pertencimento social, exercício de cidadania (estou em dúvida se o futebol ainda pode causar isso) e de escapismo de uma realidade difícil e tensa (claro que aqui me refiro às classes sociais de mais baixas rendas). 

Sem ele nos estádios, nas TVs e nos bares (também fechados) a realidade dura do cotidiano parece pesar mais do que nunca. Sem ele, não há gritos de gol que por mais que possam parecer comemorações, revelam gritos de extravasamento e de angústias colocadas para fora da alma (e aqui me recordo de um dos fenômenos que Norbert Elias e Eric Dunning em "A busca da excitação" se referem ao gol no futebol como antecedente ao prazer). Não há uma alegria proporcionada pela vitória do seu time ou pela derrota do rival. Não há sequer uma tentativa de felicidade coletiva externada por gestos já que estão proibidos os abraços e os apertos de mão. Sem futebol, a vida e o cotidiano parecem ter um valor menor, vazio, sem muitos significados. 

Porém, é necessário ponderar duas narrativas: A primeira é e aqui faço de minhas palavras a de Jürguen Klopp (técnico do Liverpool) que o futebol é a coisa mais importante das menos importantes (para a maioria) e que a luta mundial, nesse momento, requer atenção e cuidados de todos (ou de quem quer ter esses cuidados).  

Os esforços para conter a Covid-19 requer alguns sacrifícios, mas o que me deixa mais em pânico não é ficar sem futebol, mas sim, não saber uma data certa para quando ele pode voltar. E isso é assustador. 

Obrigado por ler e é bom voltar a escrever. ;)

Dica de música para esse tema: Incubus "Wish you were here": https://www.youtube.com/watch?v=Yg0k8ylbZe0