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18/07/2020

50 anos do tri campeonato do mundo: A história não é estática

Nossa cultura esportiva venera apenas a vitória, o resultado, as coisas positivas de uma forma tão intensa e abruptamente cega que nos faz apenas pensar em valores, crenças, histórias e fatos positivos. Atualmente, no nosso cenário histórico, essa cultura me soa bem negativa. Principalmente quando penso o que será no futuro. Tentando voltar a estudar e escrever, uma das primeiras frases que leio numa obra sobre esportes e seus cenários sociais é " A história do esporte pode ser tudo menos ser estática". E será por esse pensamento em que vou me basear para escrever sobre os 50 anos do melhor título do futebol brasileiro.

A história do esporte jamais é estática (e essa frase nunca me ocorreu no meu período de acadêmico). Ela faz tanto sentido, pois venho falando desde sempre que o esporte é tão neutro ideologicamente que essa sua característica particular o faz ser usado para o lado negativo e positivo da esfera política e econômica. A Copa de 70 para o Brasil é o maior exemplo desses dois lados andando juntos eternamente e precisamos, daqui para frente, fazer existir a caminhada de ambos para sempre. 

A seleção de 70 é considerada o melhor time de futebol da história. E isso é indiscutível por conta dos nomes que a compunha, pelo futebol que apresentou e também pela preparação exercida para aquela ocasião. Novamente, o título, a campanha, os jogadores, a preparação, todo o conjunto e etc são indiscutíveis. As comemorações, o zelo, as lembranças, as reverências, homenagens. Tudo. Todas essas coisas são indiscutíveis e merecem a nossa atenção e palmas. 



Entretanto, o que é também indiscutível é o papel da ditadura militar e de militares na preparação e no dedo da logística da seleção de 70. A intervenção militar com fins políticos (desviar o foco em torturas, prisões, assassinatos, corrupção, autoritarismo e etc.) é o lado não estático dessa história a ponto de fazer com que os atletas brasileiros (que pouco sabiam o que realmente estava acontecendo no país) agradecessem os militares até hoje, incluindo carta enviada de Pelé para Ernesto Geisel, o capitão Carlos Alberto Torres (num documentário) dizendo o que apenas importava para o grupo era o título da Copa e não que acontecia no Brasil e Rivelino afirmando que não fosse os militares, dificilmente o time chegaria tão pronto e formado para ganhar da forma como ganhou aquela Copa.  

Além do mais, é muito difícil afirmar que por conta do intervencionismo militar na seleção, essa história seja considerada manchada. Difícil pensar isso porque realmente se não fosse os propósitos político da ditadura, poderíamos até ganhar mas não da forma como foi. É por isso que a história dessa seleção não é estática e jamais poderá ser. Brasil coroou sua geração de ouro com um brilhantismo em campo e um obscurantismo fora dele. Assim, a música tema "Pra frente Brasil, salve a seleção" deve ter duas conotações históricas. 

Toda história tem seus dois lados e jamais podemos pensar e contar o lado vitorioso do assunto porque a vida não é assim. 

Uma dica importante de audiovisual sobre esse tema é uma série do jornalista Lúcio de Castro:
Memórias de chumbo: o futebol nos tempos de Condor:





Obrigado pela leitura. 

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