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31/01/2019

Paulista A3 - 2019: Comercial x EC São Bernardo

Assistir partidas de futebol in loco em uma cidade grande tem suas peculiaridades também. Por ter um público vasto, maiores esquemas de segurança, a festa da torcida ser maior e pelas cobranças/pressão que o time sofre. Faz parte. É da nossa cultura, assim como, querer um imediatismo de resultado ou futebol bonito em um time que demitiu seu técnico na primeira rodada.

Comercial X EC São Bernardo nos mostra, de novo, que há sim futebol pensado (por mais simples que seja) no interior do Brasil. Porém, também nos mostra um dos motivos pelas quais penso que ainda iremos ficar sem uma Copa do Mundo por muito tempo: a arte de tentar acabar com o jogo quando se faz 1x0 jogando fora de casa. 

No primeiro tempo, o Comercial jogou num 4-2-3-1 com e sem a bola bem definido e o EC São Bernardo num 4-2-3-1 com a bola e num 4-4-2 não compactado sem a bola. Propondo o jogo desde o começo, o Comercial usava como ações defensivas os encaixes individuais nas marcações. Porém, não executando muito bem, deixavam espaços para as bolas longas e o contra ataque do EC São Bernardo. O gol não saiu assim. O 1x0 do time visitante foi numa rebatida de bola e não se sabe como ela sobrou para o atacante marcar aos 10 minutos de jogo. Foi ai que começou o processo de atrasar e esfriar o jogo desde os 15 minutos do primeiro tempo (sério, isso tem que acabar. Não pode acontecer). Mesmo assim, o Comercial usava a troca de passes nos lados do campo para gerar cruzamentos e consequentemente gerar finalizações que não resultaram em gols. 

Resultou no segundo tempo, onde os dois times mantiveram a sua forma de jogo com exceção do EC São Bernardo que abdicou de jogar sem a bola no 4-4-2 e passou a jogar no 4-2-3-1 após tomar a virada. Ruim defensivamente e após a mudança do Comercial (tirou um zagueiro lesionado, colocou um meia e recuou um volante para a zaga) o time visitante não suportou a criação e as finalizações do time da casa, principalmente no segundo gol que foi um golaço (um chute de fora da área). 

Resultado final: 2x1 Comercial.  




Paulista A3 - 2019: Monte Azul x São Carlos

Como faz calor nessa terra. Reclamo mas penso nos atletas que ficam expostos ao sol e ao calor por duas horas. Chega a ser desumano mas no Estádio do Monte Azul não há iluminação artificial, por isso há a necessidade de se jogar de dia. 

Quarta rodada da A3 e já podemos ver o que alguns times farão nesse campeonato. Monte Azul x São Carlos puderam mostrar como é importante você ter aliado ao seu time os aspectos técnico, físico e tático. Por mais que o futebol, hoje, seja mais físico e tático, a técnica ainda é muito essencial e o primeiro tempo nos provou isso. Muito baixo tecnicamente. 

O Monte Azul começou usualmente no 4-2-3-1 com e sem a bola, propondo o jogo (por estar em casa?!?) e tendo seu camisa 10 como principal articulador, iniciador e organizador das jogadas por recuar da sua posição original e buscar a bola nos pés dos zagueiros. Já o São Carlos fez aquilo que gosto muito: a variação tática. Sem a bola era um 4-1-4-1 e com a bola um 4-4-2 aberto (com dois alas abertos nas laterais: pense na forma de um trapézio). Mesmo o jogo sendo bom taticamente, a técnica, com erros de passes, fez com que o primeiro tempo fosse ruim. 

Porém, houve mudanças para o segundo tempo. O São Carlos manteve seu esquema e sua forma de jogar. Já o Monte Azul mudou: saiu do 4-2-3-1 para o 4-3-1-2 ou o famoso 4-3-3 com o número 10 na sua posição original só distribuindo as jogadas e não mais criando (dando o passe final). Isso fez com que o Monte Azul ganhasse o meio campo, fortalecendo sua defesa, possibilitando a melhor troca de passes, as passagens pelas laterais e as jogadas com os pontas. Saiu o primeiro gol num cruzamento e o segundo num erro do goleiro do São Carlos. 

Resultado final: 2x0 Monte Azul. 

27/01/2019

Paulista A2 - 2019: Sertãozinho x Inter de Limeira

Há certas vezes que é complicado de estar num estádio. Você  sente uma animosidade e um clima péssimo quando o time da casa passa por momentos ruins. Em Sertãozinho dessa vez, dava para notar de longe a impaciência e ânsia por uma vitória. Já te adianto que ela não veio e conto o porquê  (ou pelo menos tentarei).

Sertãozinho jogou como joga desde o começo da temporada : 4-2-3-1 com e sem a bola e por ser o time mandante tinha a posse de bola e os controles das ações ofensivas. A Inter de Limeira jogou no 4-4-2 com  a bola e num 4-5-1 sem a bola. Fico muito feliz quando vejo tais formações diferentes no mesmo time e de acordo com  a situação de jogo. Pena que as linhas e a aplicação tática da Inter não era tão boas como poderiam ser. 

No primeiro tempo, muita posse de bola para o time da casa, muita criação de jogadas e poucas finalizações (quase nada objetivo). A Inter era o futebol bruto: muita rebatida, pouca qualidade, só no contra ataque e muita força física. Com tudo isso, quem me faz o gol foi o time visitante num contra ataque nas costas do lateral esquerdo do Sertãozinho, cruzamento, cabeçada e gol aos 35 minutos. Depois disso, quase não teve mais jogo pelas ações e paralisações do time visitante.

No segundo tempo, a Inter fica sem o lateral expulso e com um a menos passa a jogar no 4-4-1. Estabelecem uma fortaleza na frente do gol e nada passa. O estilo de jogo do Sertãozinho depois disso não ajudou. Mesmo saindo um volante e um zagueiro para entrar dois meias e passar a jogar quase que num 3-3-4, colocando os laterais com alas, não houve a criação necessária para furar a defesa da Inter. Com exceção  do número 11 que tentava triangulações e jogadas que pudessem abrir espaços, o Sertãozinho apenas cruzou e como cruzou. Assim, tendo uma estatura maior, a defesa da Inter afastou muitas bolas. 

Resultado final: 1×0 Inter de Limeira.

PS: Uma das coisas que o futebol permite, por exatamente ser o futebol, é a condição de que quem ganha o jogo não necessariamente merecia pela forma que jogou. E o ônus da derrota vai todo para o outro lado, inclusive colocando a prova o planejamento feito. 

25/01/2019

Paulista A2 - 2019: Sertãozinho x Juventus

Estou curtindo demais escrever sobre os jogos dos times de interior de São Paulo. Muito por conta da falta de espaço que esses times possuem nos noticiários locais e mais ainda pela ausência ou quase ausência de informações sobre jogo em si: as estratégias, como se deu e etc. 

O segundo jogo analisado foi entre Sertãozinho e Juventus da Mooca. Assistir jogos em estádios para menos de 5 mil pessoas e localizados em cidades pequenas tem suas peculiaridades. A proximidade com o campo te faz ouvir sons que só quem pôde ter a experiência de jogar uma partida oficial tem. Além do mais, você percebe claramente quem são as pessoas que detém o poder naquela cidade, simplesmente por notar quem senta nas cadeiras cativas do estádio e a forma como eles se comportam nesse ambiente. 

Enfim, Sertãozinho vinha de uma derrota na primeira rodada e o Juventus de um empate. Novamente, nesses tipos de campeonato (e claro que em todo o mundo é assim também), quem é o time mandante tenta ditar o ritmo do jogo tendo mais posse de bola e quem é o time visitante recua, joga defensivamente e joga no contra-ataque (talvez será a análise que irei mais escrever aqui). O Sertãozinho no famoso 4-2-3-1 e o Juventus (que me surpreendeu) jogou no 5-4-1 sem a bola e no 3-4-3 com a bola (igual o Chelsea do Antonio Comte fazia). Nos primeiros 20 minutos do primeiro tempo, o jogo era totalmente tático. Era lindo de se ver. Era fantástico ver o Juventus marcar em 30 ou 35 metros com todos os seus jogadores e o Sertãozinho abrindo os dos laterais usando-os como alas (jogando na amplitude para espaçar a linha de 5 defensores do Juventus) e também usando a saída de 3 (um volante indo buscar a bola entre os dois zagueiros). Chances de infiltrações pelo meio e troca de passes pelos lados do campo, o Sertãozinho fez, porém a fortaleza do Juventus apareceu. E em dois contra ataques e pela não cobertura na segunda trave da defesa do Sertãozinho, o Juventus faz 2x0 no primeiro tempo. Culpa-se o goleiro do Sertãozinho, mas chutes a 2 ou 3 metros dele é mais culpa da cobertura defensiva do que qualquer falha em gesto técnico. 

Com 2x0 no primeiro tempo e jogando fora de casa fica muito fácil controlar o jogo no segundo tempo. O Juventus recuou ainda mais. Rebatia qualquer bola que ousasse chegar perto da sua grande área. Posse de bola para o Sertãozinho lá encima e ligaram o hidrante na forma de jogo de tanto chuveirinho na área que fizeram. Porque disso? Não havia criação do meio campo do Sertãozinho. Eram os dois volantes que iniciavam as jogadas e tentavam achar os espaços sem êxito. A alteração que o técnico do Sertãozinho fez foi muito bem pensada e muito boa, porém ela dependia da boa execução dos jogadores (e foi isso que não aconteceu). Ele tirou um lateral e colocou um meia e pôs um dos volantes para fazer a lateral para ter mais criação no meio campo. Não teve. Esse meia tinha que vir buscar a bola nos pés dos zagueiros. No último minuto, um gol de falta para o Sertãozinho. 

É muito bom ver times pequenos com a disciplina tática e a execução perfeita da proposta de jogo feita pelos jogadores do Juventus. Foi sensacional de ver os primeiros 20 minutos de jogo, a luta tática entre as duas equipes e etc. Isso pode nos fazer crer que há uma mudança sim no futebol brasileiro (apenas dentro do campo é claro). 

Resultado final: 2x1 Juventus. 

PS: O imediatismo não é particular dos times grandes e não há qualquer paciência de qualquer torcedor em relação à um trabalho de longo prazo.     

22/01/2019

Paulista A3 - 2019: Monte Azul x Barretos

Analisar, observar e trabalhar em divisões inferiores do futebol brasileiro requer uma paixão inestimável pelo esporte. Não pense você que já estou criticando o nível de futebol de um campeonato do terceiro escalão do Estado e por favor entenda que tentarei não fazer isso nas minhas análises futuras. Digo de ter a paixão na perspectiva de acompanhar tais jogos observando as estruturas, as condições e a sociologia cultural desses campeonatos não televisionados. 

O primeiro jogo profissional desse ano foi o clássico estadual entre Monte Azul x Barretos na cidade de Monte Azul Paulista. A estreia de um campeonato requer qualquer cuidado em relação às críticas e aos elogios que podem ser feitas para os times. O fato curioso é que desde o ano passado, percebe-se uma forma padronizada de se jogar futebol. É simples: o time da casa terá mais posse de bola e o time visitante será mais recuado e buscando o contra-ataque (o famoso jogo de transição). Além do mais, a quantidade de times usando a formação tática do 4-2-3-1 é enorme (por ser mais fácil de treinar e mais simples de explicar os modelos de jogo!?! Sinceramente, não sei). 

Os dois times começaram no 4-2-3-1. Tanto com a bola como sem a bola. Monte Azul mais na sua posse de bola e gerando mais ações ofensivas que o Barretos. Já o Barretos, bem recuado e compactado, marcando atrás da linha do meio campo. O que dita os jogos do campeonato da terceira divisão, da segunda divisão e até mesmo da primeira divisão é o fato de marcar o primeiro gol e depois recuar, jogar na defensiva e buscar o contra ataque. Será que deve ser por isso que times de futebol privilegiam formas de jogo e atletas de velocidade pelos lados de campo? Pode ser e não sei. Mas foi isso que aconteceu. Barretos marcou o primeiro gol e se já estava recuado, passou a recuar ainda mais. Por incrível que pareça (e ai foi onde o jogo me deixou feliz) o Monte Azul tentou o resto do jogo inteiro empatar mas não no chuveirinho ou no pagode (como preferem) e sim na troca de passes e nas infiltrações. Está certo que suas melhores chances fora pelo alto e pararam no excelente goleiro do Barretos. 

Por fim, a marca do técnico do Barretos (Paulinho Mclaren) prevaleceu: jogo por uma bola só e privilegiando a defesa e contra ataques. 

PS: Injúrias raciais foram ditas pelas arquibancadas. A intolerância parece que aumentou depois de primeiro de janeiro. E o esporte é um dos ambientes que mais reflete isso.