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29/01/2022

Paulista A3 1ª Rodada: Olímpia x Barretos

O campeonato Paulista A3 é um pouco mais diferente dos estilos de jogos que eu relatei sobre a A2 no texto anterior. A A3 é mais física, bruta, corporal, menos plástica e mais rústica no sentido das ações no jogo (quase que um kick and rush inglês). Obviamente que todo o contexto social de uma terceira divisão estadual pesa na escolha das estratégias e plataformas. A terceira divisão visa mais a sobrevivência dos atletas que muito deles trabalham por contratos de 3, 4 meses e às vezes sem receber o que foi acordado. Tudo isso se reflete no campo, além da qualidade de alguns gramados. 

Olímpia x Barreto fizeram já um clássico na primeira rodada. Separadas por 50km de distância uma da outra, as duas equipes fizeram um duelo bem, mas bem, estilo A3. O Olímpia veio a campo na formação mais clássica desse campeonato: um 4-2-3-1 sem e com a bola, sem qualquer ação na saída de bola e basicamente jogadas por chutão exceto pelas ações do seu camisa 10. Já o Barretos me decepcionou um pouco na sua estratégia: optaram por um 4-2-3-1 sem e com a bola também, travando todo o jogo já que as estratégias foram quase a mesma de ambos. 

A tempestade piorou a qualidade do gramado e assim as ações e comportamentos dos times. Logo aos cinco minutos de jogo, O Barretos abre o placar numa jogada em velocidade e um golaço pelo lado esquerdo com assistência do atacante pivô. Após o gol, o Barretos adotou uma estratégia bem típica da A3, recuar e deixar a bola com o outro time. A qualidade do jogo que já não tinha pela quantidade de erros em fundamentos, só era mantida por causa do camisa 10 do Olímpia. Centralizado na linha dos meias, ele flutuava para os dois lados, abria espaço para receber a bola livre, aproximava dos zagueiros para dar a saída de bola e procurava as melhores opções. Infelizmente, o time do Olímpia não se movimentava de acordo e nem fazia o jogo de associação com ele, optando apenas por jogadas laterais, chutões e confrontos 1x1. 

No segundo tempo, ambos os times vieram com a mesma formação. A Alteração foi no posicionamento dos dois volantes do Olímpia: Mais fixados e mais pertos dos zagueiros quando o time portava a bola. Essa mudança não foi passível de análise porque aos nove minutos do segundo tempo, o volante número 8 do Barretos impediu o que o atacante do Olímpia ficasse cara a cara com o goleiro após um erro na saída de bola dos visitantes. Expulsão para o Barretos e pior: na falta veio o gol do Olímpia após a bola desviar na barreira. 

Após o gol do empate, o Barretos formou um 4-4-1 sem a bola e um 4-2-3 com a bola. Esse "com a bola" não existiu quase, porque o Olímpia dominou o jogo, empurrou o Barretos para o seu gol mas infelizmente não converteu sua pressão e posse em finalizações e trabalho para o goleiro do Barretos. 

Resultado final: 1x1. Não vale a pena comentar o que rolou fora de campo. Mais amor e menos ódio. 

27/01/2022

Paulista A2 Primeira Rodada: Monte Azul x São Caetano

Um dos campeonatos mais amado por mim finalmente começou. O Paulista A2 é um dos melhores campeonatos para trabalhar. O motivo é a intensidade dos jogos, a qualidade, a emoção e é claro assistir in loco jogadores que já se apresentaram em grande nível. 

A partida de estreia foi Monte Azul x São Caetano em Monte Azul no seu estádio clássico ao lado do seu zelador fiel, o caramelo (o cão vira lata que vive nas dependências). Confesso que nos primeiros momentos do jogo, mais precisamente, todo o primeiro tempo, tive enorme dificuldade para conseguir enxergar as plataformas de jogo de ambas as equipes. Por fim, consegui com a ajuda do analista de desempenho do São Caetano e ficou assim: O Monte Azul jogou no 4-4-2 sem a bola e no 4-3-3 com ela mais num estilo reativo e vertical mesmo sendo mandante da partida. Já o São Caetano (sem Ricardo Oliveira), veio no 4-1-4-1 sem a bola e na variação do 4-4-2 e ás vezes um 4-2-3-1 com a bola, utilizando a saída de três e com mais posse de bola. 

Olhando as escalações iniciais, o favoritismo pendia para o São Caetano por causa de nomes conhecidos como Baraka e Rildo jogando como titulares. Baraka era o primeiro volante e o jogador da saída de 3. Ele dava o ritmo da posse ao time e toda hora fazia o jogo associativo no campo de defesa. Porém, não foi o que se viu. Basicamente no 4-3-3 na transição, o Monte Azul partia com seus pontas para atacar os espaços vazios nas laterais por causa dos avanços de seus defensores. Com isso, as melhores chances e melhores finalizações foram pelo time da casa, até chegar ao gol aos 24 minutos de pênalti. 

Como de praxe, já recuado usando a transição, o Monte Azul abdica da bola após o gol e mesmo sem ambos os times mudarem sua forma de jogo, a partida ficou assim até o final: pressão do São Caetano e defesa do Monte Azul. Com duas defesas incríveis em cruzamentos, o goleiro Caio do Monte Azul manteve a primeira vitória para o time da região de Bebedouro. 

 

20/01/2022

Copa São Paulo de Futebol Junior 2022: Uma análise tática e futurista

Após a não edição em 2021, a Copinha voltou com público e suas mesmas peculiaridades ímpares. Confesso que foi um tanto crítico trabalhar nela com a presença de muita gente. Mesmo com o passaporte vacinal requerido, os protocolos de saúde não eram cumpridos por 90% dos presentes. Porém, me cabia me proteger da melhor forma. 

Nessa edição ao todo foram 21 partidas cobertas em 8 cidades sedes diferentes. As partidas foram desde a fase de grupos até as quartas de final passando por duelos tradicionais e duelos nunca antes acontecidos. Poderia facilmente listar pontos negativos e positivos dessa edição. No entanto, preferi desenvolver uma linha de raciocínio mais positiva e futurista sobre o comportamento de jogo, as ações e as estratégias. 

Quando falamos em mudanças estruturais complexas, elas se realizam de forma gradual em um período histórico em que os frutos se darão em décadas. Isso se deve pois estou me referindo a formação de capital humano no futebol brasileiro (tão criticado pós 7x1). Nesse sentido, a Copinha se revela como um dos, se não, o maior termômetro por onde o futebol masculino brasileiro se caminha. 

No sentido do jogo, a caminhada me revelou ser boa, positiva e com um futuro brilhante se a transição disso tudo ocorrer de forma satisfatória para o futebol profissional. Apesar de inúmeros times, observados por mim, tenham adotado a plataforma de jogo do 4-2-3-1 com e sem a bola, variações táticas, comportamentos táticos e o entendimento do jogo era bem perceptível em quase todos os times e partidas que trabalhei. 

Por exemplo, saídas de três, saídas sustentas, menos chutões e ligação direta, mais bolas invertidas, transição da defesa para o ataque feita de uma maneira veloz e intensa e o mais importante de tudo: ter um alinhamento tático sem tirar a beleza do jogo brasileiro. E é isso em que mais comemorei, além das observações em times que jogavam num 3-3-1-3 ou 4-5-1, numa variação de 4-4-2 quando ganhava mas mudava para o 4-2-3-1 quando perdia. 

Menos gritaria no banco e mais orientações no sentido de mudar ou alinhar o jogo foi observado nos bancos de reservas. E isso é um bom termômetro do como os profissionais de base (principalmente os treinadores) estão lidando com a formação do futebol. 

Me encantou muito os aspectos do jogo. Em especial, quero citar o estilo de jogo do Criciúma, Nova Iguaçu, Ferroviária, Santos, Mirassol, Bahia, Grêmio Novorizontino e o glorioso Chapadinha. 

O melhor jogo que eu trabalhei foi as quartas de final entre Mirassol x Santos. Um duelo tático digno de campeonato profissional. Marcação em bloco alto e em bloco baixo, perde pressiona, uma variação tática impossível de se ver rapidamente. Passes que quebravam linhas, mudanças de comportamentos afim de mudar o jogo (as alterações do Mirassol para o segundo tempo foi um exemplo disso) e é claro, a categoria técnica do nosso futebol. 

Muito feliz de poder ver esse progresso, pelo menos dentro do campo de jogo, do nosso futebol. 

Deu até um calorzinho no coração.