Quanto mais espetacularizados,
massificados, mobilizadores de grandes grupos sociais e angariadores de grandes
investimentos os esportes são, há a necessidade de se obter uma hegemonia esportiva.
Isso vale para os atletas, equipes, comissões técnicas, dirigentes e inclusive
para os meios de comunicação. Entretanto, mais difícil do que alcançar a
hegemonia esportiva é mantê-la e por isso, me pauto em Maquiavel e seus
fundamentos sobre Virtú e Fortuna para discorrer desse processo
dentro do âmbito esportivo.
Maquiavel
disserta sobre Virtú e Fortuna na sua obra “O Príncipe” no qual
é considerada uma manual de manutenção do poder para monarcas do século XVI.
Porém, assim como “O capital” de Marx, essa obra pode ser considera muito
contemporânea pois houve e há muitas similaridades entre os governantes atuais
e os príncipes antigos na forma de governar seus reinos, sociedades e Estados-nação.
Desta forma,
para se manter no poder, os governantes necessitam de um conjunto de qualidades
e possibilidades, seja elas quais forem (boas ou más ações), cuja a aquisição o
governante passa achar necessária, a fim de manter seu Estado e realizar
grandes feitos. Ou seja, a pessoa que governa necessita de Virtú para vencer as incertezas e imprevisibilidades que cercam e
ameaçam o seu governo, no qual essa força incerta, que pode ser natural ou
humana, é caracterizada como Fortuna
(destino). Assim, o dualismo entre Virtú
e Fortuna é tido como uma questão de
legitimidade e manutenção do poder, ao passo que quanto maior a Virtú (qualidade em manter o poder)
menor ou maior controle sobre a Fortuna
(imprevisibilidades que ameaçam essa manutenção).
Levando essa
ideia de manutenção do poder por Maquiavel ao esporte, vemos que a busca do
poder, que neste caso é a conquista de títulos, campeonatos e etc. se revela
muito mais frequente do que a manutenção do mesmo, pelo fato de tanto que o
esporte é cercado por imprevisibilidades (Fortuna)
e por ser, às vezes, uma roda da sorte. E é menos frequente a manutenção de uma
hegemonia esportiva, que neste caso é a conquista de uma série de títulos em um
determinado período, dado a dificuldade que se é de controlar os aspectos
imprevisíveis do jogo (condições climáticas, local, torcida, fatores psicológicos
e sociais, influência da arbitragem, adversidades inesperadas como falhas
momentâneas e tantas outras) mesmo para aqueles que possuem qualidades
técnicas, táticas, físicas e psicossociais (Virtú)
para controlar o destino.
Temos como
exemplo de manutenção de hegemonia: o Santos de Pelé; a Itália da década de
1930; o Brasil no final da década de 50 à década de 70; o Barcelona de Messi; o
Palmeiras da década de 90; Boca Juniors no começo dos anos 2000; Lakers e
Celtics na NBA; Chicago Bulls de Jordan; o Flamengo na NBB; Tiger Woods no
golf; Federer no tênis; Schumacher na F1; Boston Red Sox no beisebol; Nova Zelândia no rugby;
Brasil no vôlei de quadra e areia; Michael Phelps na natação; Usain Bolt no
atletismo; Cuba no boxe; Índia no críquete; Alguns países africanos em provas
de longas distância no atletismo; China no badminton.
Assim, fica
claro que alguns atletas, times e nações se utilizam de suas Virtús para tentar controlar a Fortuna promovida pelo esporte a fim de
manter uma hegemonia esportiva da mesma forma como é evidenciado em relação aos
monarcas do século XVI, governantes e ditadores do século XX e líderes mundiais
no século XXI de acordo com Maquiavel.
Muito bom artigo Guioti, fui contemplado pela Magnifica tese Maquiaveliana e claro torcedor do melhor time do Brasil que é o Santos rsrs...Parabéns, você trouxe a tese maquiaveliana no esporte que dificilmente irei encontrar nos livros, a interdisciplinariedade faz milagres...
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