Talvez minha
geração (quem nasceu na década de 90) nunca viu um rebosteio político tão
grande quanto nos dias atuais e que se perdura desde outubro de 2014. Opiniões
a parte, a intolerância e a violência verbal se refere muito mais a busca pelo
poder por aqueles que o sempre tiveram na mão contra a manutenção do poder por
aqueles que há pouco estão no comando e já mudaram para melhor tantos aspectos
que os outros demoraram décadas ou não se importaram em mudar. Ou seja, o
conflito político atual se trata de uma velha briga desleal: a Casa Grande x
Senzala.
E há vários domingos,
nos deparamos com protestos daqueles pertencentes a Casa Grande que querem, por
meio de um golpe midiático e do judiciário, extirpar do governos federal os
atuais gestores. E por mais que se trate de pessoas que representam grupos
sociais de médio e grande aporte financeiro, um fato chama a atenção: o
vestuário que é utilizado nestes protestos que são os uniformes da seleção
brasileira de futebol.
E a utilização
do uniforme da seleção brasileira se deve à dois fatores. Um momentâneo e outro
histórico. O momentâneo por causa do propósito destes protestos: a “melhoria do
país”. E como se refere ao “âmbito nacional”, que na realidade se alude para a
melhoria de uma parcela mínima da sociedade brasileira, eles então se pautam
dos símbolos nacionais, a bandeira, o hino e a camisa da seleção. Já o fato
histórico revela-se na importância que o futebol, muito por conta dos
resultados obtidos pela seleção brasileira, teve na construção da identidade
nacional brasileira.
E é na inclusão
do futebol na construção da nossa identidade que a fez possuir de um processo
de criação diferenciado dos países europeus, de modo que as sociedades modernas
europeias tiveram suas identidades pautadas por uma origem étnica comum,
homogeneização de sua população e por meio de guerras, revoluções e processos
políticos. Em consequência disso, os esportes eram tidos na Europa muito mais
para a propagação, fortificação e representação das nacionalidades do que
propriamente para a construção das mesmas. Até porque, a institucionalização
dos esportes (século XIX) adveio posteriormente à construção dessas
identidades.
Já no Brasil,
a necessidade de encontrar uma identidade que representasse tantos povos
heterogêneos dentro do mesmo território, fez crescer os olhos dos intelectuais
e governantes da época (década de 30, 40 e 50), responsáveis pela criação da
identidade nacional brasileira, para com o futebol, pois nele reunia-se e reúne
as melhores características da sociedade brasileira, bem como, tenha sido
essencial para sua prática a miscigenação dos povos brasileiros. Ou seja,
aliado as políticas nacionalistas do Estado Novo de Getúlio Vargas, a criação
da Petrobras e o lema “O petróleo é nosso” e a industrialização tardia dos
modos de produção, o futebol foi e é um pilar imprescindível para dizer quem é
a sociedade brasileira.
Por fim, deixando
de lado toda a hipocrisia e mediocridade de quem protesta a favor do
impeachment, é notório que o futebol se fez e faz presente na vida da sociedade
brasileira ao utilizar a camisa da seleção como uniforme nessas reivindicações.
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