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12/06/2018

As Copas, as emoções, as políticas e nós

Não há época mais florida, estonteante, esperançosa e patriota (no sentido bom) no Brasil quando falamos de véspera de Copa do Mundo. Mas espera. Não é o que acontece nessa edição de 2018. E por que não há o entusiasmo ou há pouco dele?

Crise política, econômica e social-cívica; Corrupção fora do futebol e dentro dele; afastamento do povo (a parcela da sociedade que sente e usa o futebol como religião) do futebol nos estádios e no seu protagonismo; o 7x1 de 2014; o uso das camisas da seleção brasileira em manifestações políticas de 2015 e 2016; Greve dos caminhoneiros; futuro incerto e nebuloso do país e a redoma que a comitiva da seleção brasileira foi colocada na qual nunca se viu tanto distanciamento com seus próprios torcedores, ou seja, nós (vide a cena em que no final de semana caótico sem combustíveis e vivendo uma tensa situação, o avião da seleção decola com honrarias do Brasil para Londres).  

Toda essa lista faz parecer plausível e legítimo o sentimento mínimo ao evento. Pode vir propagandas, chamadas, promoções de produtos e eletrônicos consumíveis da Copa que a única coisa capaz de trazer o entusiasmo de volta, igual as edições anteriores, é tão somente e exclusivamente o desempenho esportivo do Brasil. E como se pode aferir isso? Simples. Um estudo sobre os contextos políticos e as edições de Copas que o Brasil ganhou.

Breve relato:

- Copa de 1958: Getúlio Vargas se suicida em 1954 e emerge a urgência de o Brasil ter um exemplo, uma referência. Surge então Pelé e o time de 58 que embarcara para a Suécia desacreditado pela derrota de 1950, onde vem a famosa crônica de Nelson Rodrigues – O complexo de vira-latas. Brasil Campeão.

- Copa de 1962: Período Pré Golpe Militar, ebulições políticas tensas e Brasil novamente campeão.

- Copa de 1994: Período pós ditatura militar e com graves problemas econômicos e sociais. Além do mais, Ayrton Senna falece dois meses antes da conquista do tetra (Importante fato, porque no período em que a seleção brasileira mais naufragava, Ayrton Senna a substitui como um alento e alegria para a sociedade e falece quando o Brasil retoma o posto).

- Copa de 2002: Talvez tenha sido o título que tenha menos impacto político, pois a única ressalva é a transição de governos neoliberais para os populistas.

Pulei a Copa de 1970 para deixar um parágrafo somente para ela. É nessa edição que há a maior semelhança do que vivemos agora. Ditadura militar com sua força máxima em relação a repressão, supressão de direitos e assassinatos reinava. Brasil de 70 totalmente servido ao regime na sua preparação e na utilização de propaganda política. Raiva e a torcida contra a seleção (nem todos mas havia) por causa desse apoio político. Porém, a desconfiança e o não entusiasmo foi até o primeiro jogo (Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia) em que o desempenho esportivo e a forma de jogar (lembrando que a seleção de 70 foi eleita a melhor seleção de todas as Copas) pulverizou qualquer sentimento ruim.   



Todo o apoio político e seus contextos históricos refletem e influenciam as campanhas esportivas em eventos mundiais, seja para o bem ou para o mal. E o contrário também é verdadeiro, pois se fizermos uma linha histórica dos fatos dá para aferir e é plausível de se pensar que o 7x1 foi sim a abertura de uma caixa de pandora para os brasileiros. Ou seja, a sucessão de coisas e acontecimentos ruins tem início pós 7x1.

Apesar de tudo isso, o esporte é um mobilizador e aglutinador de pessoas, de massas, de público. Pode ser alienante, manipulador, mas também politizador e esclarecedor, pois o mesmo é neutro politicamente e ideologicamente. E o que o torna espetacular é a sua capacidade de oferecer em momentos tristes e de mazelas para aqueles que mais sofrem uma alegria, um sorriso, uma esperança, um sentimento bom de gritar um gol ou quem sabe de ser campeão.

As chances de repetirmos 1970 são grandes. Nunca vi um time brasileiro tão bem preparado como os livros descrevem como foi no México. E o pouco entusiasmo de hoje pode acabar no primeiro jogo da seleção a depender do desempenho esportivo.

A vida segue na labuta pós Copa. Na labuta difícil. Mas com o hexa, a luta pode ser feita de forma mais brilhosa.

Abaixo, segue um áudio que é quase a forma de um podcast que deu à luz para as ideias desse texto. Me desculpe os barulhos, pois foi gravado durante uma caminhada. De acordo com Chico Buarque, as caminhadas resolvem os pensamentos incertos: Podcast 1


Obrigado =)

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