Páginas

26/03/2019

Amistoso: Brasil x República Tcheca

Não consegui assistir o jogo Brasil x Panamá. Notei, li e assisti inúmeras críticas à seleção e principalmente ao Tite, talvez o mais atacado. Atacavam sua forma de falar (inútil tal discussão). Por isso, decidi assistir o jogo de hoje e comentar as análises que percebi para que houvesse uma perspectiva diferente daquela apresentada. 

O Brasil começou na sua forma famosa de jogar com o Tite com uma leve alteração: Sem a bola era o habitual 4-1-4-1 e com a bola era um 4-3-3 num formato de triângulo invertido com Casemiro a frente da linha de 4 defensiva e Paquetá e Alan mais a frente (e não jogava no 4-1-4-1 com a bola):














Já a República Tcheca jogou no 4-2-3-1 com e sem a bola muito compactado e com mobilidade:


Primeiro Tempo: Como forma de pensar o futebol, o Brasil de Tite jogava com a bola, propunha o jogo horizontalmente no campo defensivo e no meio e verticalmente no campo de ataque (usando as infiltrações e diagonais como as principais ações ofensivas) e quando perdia a bola, realizava o perde-pressiona para tentar recuperar o mais rápido possível. Já a Rep. Tcheca jogava bem compactada, porém não recuava (os 10 jogadores de linha se moviam conforme a localização da bola nos pés do Brasil). Aos 23 minutos, o Brasil tinha 68% de posse de bola, 2 finalizações erradas, 147 passes trocados e 6 desarmes. A Rep. Tcheca tinha 32% de posse de bola, 1 finalização certa, 66 passes trocados e 4 desarmes feitos. Após esse tempo, o problema de se manter fiel ao esquema de jogo já utilizado em Eliminatórias e na Copa do Mundo, começa a aparecer: a previsibilidade das ações e as reações do adversário. E foi isso que ocorreu no jogo: A Rep. Tcheca melhora e muda o jogo quando quando começa a marcar a saída de bola do Brasil, porém não no seu início, mas sim, nos jogadores de meio de campo que receberiam esse primeiro passe (sempre havia dois ou mais jogadores tchecos cercando o receptor do passe para que gerasse um tentativa de desarme rápido e criação de um contra ataque). Só um adendo: o sistema defensivo do Brasil continua exposto pela não recomposição dos seus meias (mesmo tendo o Alan) sobrecarregando o Casemiro que tinha que cometer faltas. Aos 30 minutos, Tite inverte Coutinho e Paquetá com Richarlison e Alan, porém, os Tchecos continuavam pressionando a saída de bola do Brasil, interceptando passes, desarmando e controlando muito o meio de campo inclusive gerando contra ataques e por consequência finalizações. O gol dos Tchecos, aos 37 minutos, foi resultado de toda essa blitz: Desarme, ligação de contra ataque e finalização de fora da área. Nesse momento, a Rep. Tcheca tinha 5 finalizações (3 certas) contra 3 finalizações do Brasil (com 1 certa). No final do primeiro tempo, o Brasil teve 64% de posse de bola, 4 finalizações com apenas 1 certa, 249 passes, 9 desarmes com 8 certos, 1 interceptação certa e a bola lhe foi roubada 23 vezes. A Rep. Tcheca teve 36% de posse de bola, 6 finalizações com 3 certas e 1 gol, 124 passes, 12 desarmes sendo 11 certos, 5 interceptações com 4 certas e lhe foi causada 12 perdas de posse de bola. Nota a diferença entre os desarmes, interceptações e perdas de posse de bola. A mudança da forma de marcar da Rep. Tcheca e a previsibilidade do esquema tático do Brasil (e é aqui que talvez Tite deva ser criticado) fizeram a tônica do primeiro tempo e o desempenho ruim do Brasil. 

Segundo Tempo: o Brasil mudou, não apenas sua formação tática e com substituições, mas sim, sua intensidade e seu comportamento. Ao tirar Paquetá e colocar Evérton, o Brasil passa do 4-3-3 para o 4-2-3-1 com a bola: Tite recuou Alan para ser o segundo volante e ajudar Casemiro na defesa e muito também na saída de bola e colocou Coutinho como o jogador central da linha de 3 do meio de campo e deixando Firmino como atacante. O objetivo disso tudo era ter uma qualidade melhor na saída de jogo e rapidez além de melhorar o sistema defensivo, justamente por não sobrecarregar Casemiro (já amarelado). Deu certo e muito certo. O gol de empate foi mais um erro do lateral tcheco do que propriamente resultado dessas mudanças. Porém, era visível a melhora do time brasileiro: Na intensidade, no perde pressiona, na troca de passe. A Rep. Tcheca, mantendo seu esquema tático, abdica de marcar a saída de bola do Brasil. Aos 17 minutos, a entrada de David Neres para saída de Richarlison melhorou ainda mais a verticalidade no campo de ataque e a oportunidade de fazer o combate de 1 contra 1 nos lados do campo junto com o Evérton. Aos 22 minutos, o Brasil tinha 61% de posse de bola, 6 finalizações com 3 certas e 1 gol, 215 passes, 14 desarmes com 12 certos e tinha 36 perdas de posse de bola. A Rep. Tcheca tinha 39% de posse de bola, 7 finalizações com 3 certas e 1 gol, 177 passes, 18 desarmes certos e 6 interceptações com 5 certos e 19 perdas de bolas. Ao abdicar de pressionar a saída de bola, os tchecos realizavam os encaixes individuais (como o Cuca gosta de fazer). Ao tirar Casemiro e colocar Arthur e tirar Coutinho e colocar Gabriel Jesus, o Brasil manteve sua intensidade e forma de jogo: recuou Firmino para a linha de 3 meias (no centro) tendo, às vezes, uma alternância de posicionamento do 4-4-2 e 4-2-3-1. A troca de passe ficou muito melhor, aumentando a posse de bola no meio campo e no ataque, melhora a qualidade da saída e a construção das jogadas ficam mais leves por conta da entrada do Arthur (o Xavi brasileiro) como segundo volante. Tudo isso gerou finalizações (8 finalizações brasileiras contra 7 dos tchecos) e 2x1 aos 38 minutos: Desarme de Danilo, passe em profundidade para David Neres e assistência para Gabriel Jesus. Depois disso, sai Firmino e entra Fabinho: adianta Arthur para o centro da linha de 3 meias e coloca o Fabinho como segundo volante ao lado de Alan. 3x1 aos 44 e com um golaço: Alan começa a jogada, passa para David Neres que toca de calcanhar para o próprio Alan (elemento surpresa) e assistência para Gabriel Jesus. Toques rápidos e envolvente. 

O Brasil termina o jogo com 62% de posse de bola, 11 finalizações com 7 certas e 3 gols; 474 passes, 25 desarmes com 22 certos e 50 perdas de posse de bola. A Rep. Tcheca teve 38% de posse de bola, 7 finalizações com 3 certas e 1 gol, 273 passes, 33 lançamentos com 6 certos e 32 perdas de posse de bola:

Alguns fatos: 
- Arthur precisa ser titular. Não temos esse tipo de jogador há tempos no nosso futebol e é absurdo deixá-lo no banco. 
- Talvez Tite pudesse repensar seu posicionamento tático: jogar com apenas um volante é muito arriscado no futebol que se joga hoje, assim como, manter apenas um atacante: a melhora absurda do ataque quando se posicionou Gabriel Jesus e Firmino lado a lado, além das opções de ataques que possui.
- Tite pensa o futebol com posse de bola e é isso que teremos: um futebol ala Guardiola, às vezes, misturado com Klopp pelas características dos jogadores que ele convoca: Primeiro tempo foi estilo Guardiola e o segundo tempo foi a estilo Klopp. 
- Começa a fritura de Tite pelo desempenho ruim nos amistosos. Eu penso o seguinte, melhor ter um desempenho ruim nos amistosos do que em uma competição oficial. O que o Tite quer propor para a seleção demanda tempo e paciência. Demiti-lo antes da Copa de 2022 é acabar com quaisquer chances de ganha-lá. E quem reforça tal situação de demissão caso não ganhe a Copa América não entende de futebol ou se entende, tem a total displicência por tentativas de se jogar bem. Prefiro ver a seleção perder a Copa de 2022 com um trabalho de 6 anos do que perder com um trabalho de 3 anos.        




Nenhum comentário:

Postar um comentário